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  • Foto do escritorAriel Farias

ÁFRICA DO SUL 8º Dia - Cidade do Cabo, finalmente! (21/11/2017)

A Cidade do Cabo é o equivalente ao Rio de Janeiro da África do Sul. E as semelhanças não param só no fato de serem as cidades mais famosas e turísticas de seus respectivos países. As duas são realmente bastante parecidas. Tratam-se de cidades grandes e bastante urbanizadas mas que contam com uma beleza natural impressionante no encontro de belíssimas praias com as imponentes formações rochosas, com várias trilhas para se fazer em meio a natureza. Assim como o cristo, Cape Town também conta com uma recém declarada nova sétima maravilha do mundo, no caso as naturais, a icônica Table Mountain, que assim como o Pão de Açúcar é acessível por um bondinho suspenso e, assim como o corcovado, se avista de todo o lugar na cidade. A vista também lá de cima é bem parecida, permitindo ver o estádio Green Point abaixo lembrando bastante o Maracanã. A maior diferença acredito que sejam as favelas. Enquanto no Rio de Janeiro elas foram surgindo nas encostas dos morros, na Cidade do Cabo os colonizadores desde cedo trataram de criar as Townships em locais bastante afastados, impossibilitando qualquer tentativa de que os não brancos da região frequentassem as áreas centrais e as praias.

Ávidos para começar a conhecer a maravilhosa Cape Town, acordamos cedo para tomar o café da manhã no hostel. Como o café não era incluído e, depois de dois dias viajando não tínhamos nem uma bolachinha na mochila, fomos à caça de um supermercado e, felizmente, havia um shopping bem em frente ao prédio do hostel que possuía um Pic n Pay. Compramos então pão, frios entre outras coisa e fomos tomar café no agradável terraço do hostel com uma bela vista dos característicos morros que circundam a cidade que, como já mencionado, se avistam de todo o lugar que você está na cidade. O problema que este dia, assim como quase todos em que estivemos em Cape Town, estava ventando muito e fazendo um certo friozinho, então era meio ruim ficar a céu aberto por muito tempo. Por esse motivo também, resolvemos seguir a dica que sempre damos mas que raramente cumprimos, que é fazer o Free Walking Tour no primeiro dia que se chega no local. Rapidamente então seguimos para o local de encontro dos Free Walking Tours, a praça Green Market, bem próxima ao hostel e que também é local principal de embarque dos ônibus turísticos de City Sightseeing de Cape Town.

A praça Green Market é uma pracinha pequena e bem simpática onde ocorre diariamente uma feira de rua com venda de artesanatos e lembrancinhas turísticas e que é meio que o ponto central e de encontro da zona mais turística do centro de Cape Town. É por ali também que fica uma igrejinha histórica, a Central Methodistic Mission, que já foi a Igreja Metropolitana Central da Cidade do Cabo, construída lá por 1700.

A empresa que havíamos pesquisado os free walkings em Cape Town, ofereciam 3 tipos de passeios: o padrão, pelo centro e pontos históricos; o tour pelo bairro histórico e cenográfico de Bo-Kaap e um outro tour sobre o Apartheid e a escravidão. Como todos são interessantes, queríamos ver se daria tempo de pelo menos fazer mais um desses tours, além do tour padrão.

Como o tour começava às 11h, pudemos dar uma volta pela praça, a igreja e as banquinhas, todas naquele esquema de sempre: nada com preço e tudo tendo que obrigatoriamente pechinchar pra comprar.

Greenmarket Square


Achei tudo muito caro ali, mesmo com a pechincha, lugar pra achacar turista mesmo. Mesmo assim, a Juju conseguiu comprar umas girafinhas de madeira para dar de presente bem bonitas.

Às 11h chegaram os guias e começamos o free walking tour, junto com bastante gente que estava ali esperando. O tour pelo centro histórico, que assim como em Johanesburgo é conhecido por CBD, é um trajeto bem curto, mas com muita informação a cada ponto de parada, o que faz com que seja um pouco difícil de absorver tudo, ainda mais que como tem sempre bastante gente, fica difícil interagir muito com o guia. Mesmo assim, o pouco que dá pra conhecer da história de Cape Town torna o passeio imperdível (ainda mais que é de graça né?).

A primeira parada é logo num dos primeiros lugares de colonização do país: a Grand Parade, uma grande esplanada que fica em frente à primeira edificação construída na África do Sul, o Castelo da Boa Esperança.

O Castelo da Boa Esperança trata-se de uma fortificação enorme e muito bonita construída em 1666 pelos Holandesas quando da colonização da África do Sul, para defesa. Hoje é um museu bastante conservado com muita informação histórica e está entre as atrações turísticas imperdíveis na Cidade do Cabo.

Em frente ao Castelo, na Grand Parade, se realizavam os exercícios e as paradas militares do exército holandês e mais tarde viria a ser um local de comércio e trocas da cidade, principalmente de escravos. Com a ocupação inglesa após a guerra dos Boêres, a esplanada continuou a ser o principal ponto de encontro de comerciantes da região, mas foi diminuída, dando espaço para a construção no seu entorno de diversos prédios históricos de arquitetura vitoriana como a Biblioteca pública de Cape Town, que conta com uma quantidade gigantesca de livros em seu acervo e o Cape Town City Hall, magnífico prédio com uma torre copiando o Big Ben (e que dizem que inclusive conta com peças importadas do próprio Big Ben) que sedia os eventos culturais da cidade e lar da Orquestra Sinfônica da Cidade do Cabo. Todas essas construções foram idealizadas por Edward VII, imperador da Grã-Bretanha entre 1901 e 1910 e que dizem ter desempenhado um papel importante na Guerra dos Boêres. Inclusive, é dele a estátua que fica no centro da Grand Parade.

Cape Town City Hall e Estátua de Edward VII no centro da Grand Parade (dá pra ver pela Juju como estava frio esse dia)


Mas o lugar ganhou fama mesmo por ter sido ali que Nelson Mandela discursou para uma multidão apaixonada pela primeira vez após sua libertação da prisão, em 1990 e escolhido também para ser o local de seu discurso na posse como presidente do país em 1994. No mesmo ano que estivemos lá, um mês depois foi inaugurada uma estátua de Nelson Mandela em frente ao Cape Town City Hall, no exato local onde foram proferidos os seus discursos. Nem preciso dizer o quão emocionante foi ter o privilegio de estar num lugar assim. Foi também na Grand Parade a sede da Fan Fest na Copa de 2010. Hoje é um lugar não muito turístico, sendo utilizado para o comércio de rua, com milhares de barraquinhas que vendem de tudo (tudo bugigangas), bem estilo camelódromo mesmo.

Dali seguimos umas quadras para dentro da CBD em direção à Church Square. A Church Square é uma pequena praça (se é que dá pra chamar de praça), que a principio não se dá nada pelo lugar. No entanto, é um lugar carregado de significado histórico no que se refere à escravidão na antiga colônia do Cabo.

Church Square. Esse sorriso é porque ainda não sabíamos do que se tratava a praça

Era ali, naquela pequena quadra onde realizava-se o massivo comércio de escravos no início da colonização holandesa no Cabo, sendo que em uma das esquinas se localiza um pavilhão que servia de "depósito" dos escravos e na outra funcionava uma antiga fábrica de algodão que utilizava estes escravos como mão-de-obra, dois dos prédios mais antigos da África do Sul, datando do século XVII.

A história da escravidão na África do Sul durante muito tempo foi "ofuscada" pelo Apartheid, não recebendo a devida atenção que merece e dando espaço para discursos revisionistas da questão. No entanto, a escravidão no país foi brutal como em qualquer processo de colonização e responsável pelos diversos grupos étnicos que hoje compõem a região do Cabo. A partir dos anos 2000 iniciou-se um processo de resgate desta parte da história com diversas iniciativas, dentre elas a transformação do antigo pavilhão de escravos na esquina da Church Square no Museu da Escravidão, o "Iziko Slave Lodge", museu que rememora um pouco dessa história sendo aqueles lugares, assim como o Apartheid Museum, bastante pesados e imperdíveis para se visitar.

Iziko Slave Lodge, museu da escravidão na Cidade do Cabo


Já na própria Church Square, foram erguidos em 2008, 11 pilares de granito como o "memorial dos escravizados". Neles estão encravados os nomes de milhares dos escravizados que passaram pela praça, como forma de homenagem e memória dessas pessoas. Os escravos na Cidade do Cabo foram trazidos pelos holandeses para a colonização da região principalmente devido à instalação da Companhia das índias Orientais, instalada por estes no Cabo da Boa Esperança como interposto marítimo das navegações europeias em direção à Ásia. Por conta disso, a maioria desses escravizados foram trazidos do sudeste asiático, principalmente malaios e indonésios, que mais tarde formariam o bairro histórico de Bo-Kaap, o qual iríamos visitar mais tarde naquele dia, e do leste e centro da África. Bastante curioso é que a maioria desses nomes obviamente são nomes genéricos que os escravizados recebiam pelos seus senhores, sendo que era comum a designação de um sobrenome que informasse de onde o escravo vinha, portanto tem vários "van algum país" (em holandês van significa "de", referente a lugar) como por exemplo van angola, van mozambique, o guia nos mostrou inclusive alguns nomes de escravos que vieram do Brasil! Só não lembro qual era a palavra holandesa para "do Brasil".

Pilares de memória da escravidão


Bem escondido nos arredores da praça, apenas com uma pequena placa e uma intervenção artística bem discreta demarcando o local, fica também outra memória da escravidão: a "Old Slave Tree". Como diz o nome em inglês, trata-se de uma árvore. Nessa árvore os senhores amarravam os escravos enquanto iam na igreja em frente, para estes não fugirem. Dizem que também serviu de pelourinho para os escravos "rebeldes". A árvore foi derrubada em 1916, mas o exato local foi conservado de forma bem discreta.

E por falar em igreja, em frente à praça fica a famosa igreja Groote Kerk, que em Afrikaneer significa grande igreja. A igreja data de 1700, mas essa foi totalmente reconstruída em 1841, já durante o domínio inglês, ficando somente uma torre original, o que faz com que ela não chame nenhuma atenção para quem vê de longe e não conhece sua história, parecendo uma igreja qualquer.

Por fim, na mesma quadra da praça fica o importante Iziko Social History Centre. A Iziko museums é uma agência pública da África do Sul responsável pela gestão de diversos museus nos arredores da cidade do Cabo, entre eles o Castelo da Boa Esperança e o Museu da Escravidão. Iziko significa "coração" na língua Xhosa, língua banta nativa predominante nessa região e uma das 11 línguas oficiais da África do Sul sendo a segunda mais falada do país atrás do Zulu. Inclusive trata-se de uma língua tonal muito diferente de tudo que estamos acostumados. Muitas palavras parecem com um estalo da boca ou um ranger de dentes, quem quiser procurar no Youtube algumas palavras, vale bastante a pena conhecer!

O Iziko Social History Centre é um desses museus administrados pela Iziko. Possui coleção de peças históricas e culturais do país, além de servir de galeria de arte com exposições temporárias e permanentes e espaço de pesquisa com bibliotecas e salas de reuniões, o equivalente ao que seria a Casa de Cultura Mário Quintana aqui em Porto Alegre.

Este museu fica num imponente prédio na Church Square, que outrora pertenceu a uma Companhia de Seguros Australiana fundada em meados do século XIX e que já teve diversas utilidades na cidade. Em frente fica a estátua de Jan Hendrik Hofmeyr, um importante político da Cidade do Cabo de origem Afrikaneer.

Iziko Social History Centre

Dali seguimos para a Company´s Garden. No caminho porém, uma rápida passada pela Saint George´s Cathedral. Essa Catedral é considerada a mais antiga catedral da África do Sul, datando de 1901, embora pelo estado de conservação não aparente ter toda essa idade. Mas mais do que sua arquitetura, ela ficou famosa por ser um importante ponto político de luta contra o Apartheid. Foi aqui que o vencedor do nobel, o bispo Desmond Tutu, primeiro bispo negro da África do Sul, abriu as portas da igreja para todas as raças no país e serviu de refúgio para diversos movimentos sociais de luta contra o Apartheid, sendo ele que primeiro cunhou a expressão "rainbow nation", fazendo referência às diversas raças e etnias que faziam parte da África do Sul e que fez com que a catedral ficasse conhecida como a "igreja de todas as cores". Hoje a antiga cripta que a igreja possui foi transformada em um restaurante aonde se apresentam bandas de jazz, chamado de "the crypt", e a igreja se orgulha de possuir o maior órgão da África.

Saint George´s Cathedral e entrada do Company´s Garden com a Catedral ao fundo


Chegando no Company´s Garden, mas ainda não dentro do parque propriamente dito (embora já seja considerado parte do parque), chegamos na Government Avenue, uma agradável travessa só para pedestres, com algumas banquinhas de artesanato (muitos mendigos) e muito utilizada pelos locais para praticar caminhadas e corridas, que como o nome sugere, é onde ficam os prédios governamentais da África do Sul. Para quem não sabe, a África do Sul possui 3 capitais, uma sediando cada poder, sendo o poder executivo sediado em Pretória, o poder judiciário em Bloemfontein e o legislativo na Cidade do Cabo, e é ali na Government Avenue em frente à Saint George´s Cathedral e ao lado do Iziko Slave Lodge que se localiza o parlamento do país, num bonito complexo de 3 prédios de arquitetura holandesa neoclássica. Embora os prédios sejam todos neste estilo mais antigo, somente um é considerado patrimônio histórico, inaugurado em 1884. Os outros foram construídos já no século XX mas, para se manter o padrão, foram utilizados o mesmo estilo neoclássico. Justamente o prédio mais novo (o prédio em cores tijolo e branco da foto abaixo), construído em 1980, é o mais imponente deles e o que mais ostenta detalhes neoclássicos na sua arquitetura.

Parlamento da África do Sul


Finalmente então, adentramos no Company´s Garden, um parque/jardim enorme e muito bonito, com várias seções diferentes, sendo um oásis em meio ao tumulto da CBD.

A origem do Company´s Garden remete à instalação da Companhia Holandesa das Índias Orientais no Cabo. Por ter sido o lugar com o solo mais fértil encontrado na região e local de vazão de água dos lençóis freáticos das montanhas ao redor, foi utilizado como local de plantação das mais diversas frutas e hortaliças que serviam para prover os navios holandeses que faziam a rota da Europa para a Ásia e utilizavam o cabo como entreposto comercial, tendo sido iniciadas as plantações em 1650 e sendo assim considerado o parque mais antigo da cidade.

Hoje é um lugar de natureza em meio ao centro da Cidade do Cabo, sendo muito utilizado para passeios e picnics pelos locais, principalmente os que trabalham nos prédios próximos que o utilizam para dar uma descansada da correria no dia a dia.

Company´s Garden


O parque conta com muitas áreas diversas, com grande diversidade de espécies de plantas, fontes, muitas esculturas históricas, espaços culturais e alguns memoriais, como por exemplo o memorial da primeira guerra, além de uma belíssima vista para a Table Mountain.

Em volta do parque (ou seria dentro dele?) ficam diversos museus da Iziko, como o South African Museum, South African National Gallery, a Biblioteca Nacional, restaurantes, entre outros prédios importantes da cidade.

O guia do passeio nos parou para contar a história do parque justamente em frente à estátua mais "controversa" do lugar, pessoa a qual ele também contou algumas histórias: a estátua em homenagem a Cecil John Rhodes, imperialista britânico e supremacista branco, que foi primeiro ministro do cabo nos anos 1890.

Fundador da Rodésia (hoje Zimbabue), Cecil tinha o sonho de transformar toda a África numa grande colônia britânica, do Cabo ao Cairo, o que fez ele ficar conhecido pelo seu enorme ego, tanto que essa estátua foi construída por ele mesmo e ficava na entrada da cidade, na Avenida Adderley. Após o seu fracasso na tentativa de tomar o poder na África do Sul em favor dos britânicos, o que desencadeou mais tarde na Guerra dos Bôeres, sua estátua foi "silenciosa e vergonhosamente" transferida para o Company´s Garden.

Não sei se houve o movimento Black Lives Matter na Cidade do Cabo, mas taí uma das primeiras estátuas a serem derrubadas.

Estátua de Cecil John Rhodes


Mas o mais legal mesmo do Company´s Garden é a sua "fauna". Vários patos e pássaros típicos transitam tranquilamente entre os pedestres sem medo, além dos esquilos fofíssimos que são uma atração à parte e os que mais ganham a atenção (e comida) dos que passam por ali.

Esquilos e patos fazem a alegria dos frequentadores do parque


Aliás, na Ásia, no México e na Europa conhecemos praças com esquilinhos, e dizem que nos Estados Unidos é bem comum também. Será que só no Brasil que não temos esquilos nas nossas praças?

O parque como já dito, é bem grande e conhecemos só uma pequena parte dele. Lemos depois de alguns comentaristas de internet que o local é perigoso pois tem muitos pedintes e batedores de carteira, mas achamos bem seguro e agradável, claro, tomando-se as devidas precauções e não dando bobeira (como em qualquer parque no Brasil digamos assim).

Depois do Company´s Garden, voltamos à Green Market Square, finalizando o tour. Como já havia comentado, a área percorrida é pequena, mas o volume de conhecimento recebido é bastante "denso". Demos a nossa gorjeta de sempre que fica ali entre 30 e 50 reais e combinamos de à tarde, fazer o Free Walking Tour pelo bairro Bo-Kaap.

Enquanto aguardávamos, retornamos aos arredores da Grand Parade para dar uma passada nas lojas de roupas por ali, já que é uma região mais "centrão" mesmo, onde não se vê turistas e consequentemente há produtos mais baratos. A Juju conseguiu comprar umas camisetas da North Face (falsificadas claro, mas muito boas) por o equivalente a 9 reais cada uma! No caminho por essa parte do centro, encontramos alguns resquícios do Apartheid nas ruas, como os "famosos" bancos separados só para negros e só para brancos, que são mantidos até hoje para recordar a população desse regime cruel.

Memórias do Apartheid nas ruas da Cidade do Cabo


Para almoçar, na Cidade do Cabo, pelo menos na época, estava em alta os tais de "food markets", espécie de mercados com várias banquinhas que servem os mais variados pratos de comida, tudo meio gourmetizado, de vários estabelecimentos diferentes. Pode-se comparar aqui no Brasil a àquelas feiras de food trucks, onde num mesmo espaço tu pode comer um sushi de um estabelecimento e uma pizza de outro, só que numa escala bem maior, com muito mais variedades, algumas barracas tinham até buffet e, diferente do Brasil, preços bem variados e não somente os olhos da cara. Os mais próximos ali da Green market Square são o Food Lovers Market e o Eastern Food Bazar, sendo o primeiro bem na praça mesmo e o mais famoso deles, que foi o que nós fomos. Não lembro o que nós comemos mas de tantas e deliciosas opções diferentes, fica bem difícil de escolher (ou de não acabar comendo demais e gastando demais). Nessas de querer experimentar "algo diferente", tomei um suco verde que levava pimenta caiena na composição que foi uma das piores coisas que já tomei na vida. Tanto que da garrafinha de 300 ml não consegui tomar a metade.

Uma das várias entradas do Food Lovers Market e o suco verde dos infernos


Almoçados, as duas da tarde então começamos o free tour pelo bairro de Bo-Kaap, saindo do mesmo local do tour da manhã.

Começando o Free Walking Tour. No centro o nosso guia da tarde

Três quadras adiante sentido noroeste partindo da Long Street já adentramos no bairro denominado Bo-Kaap.

Bo-Kaap é um dos bairros mais famosos de Cape Town e um dos mais "instagramáveis" também por suas casas coloridas e antigas. Fica num local privilegiado entre o centro e o morro Signal Hill. É considerado o bairro "malaio do cabo", pois foi fundado especificamente para abrigar os escravos trazidos de diversas partes da Ásia pela Companhia Holandesa das Índias Orientais. Nem todos vieram da Malásia, mas, por algum motivo todos os habitantes ficaram conhecidos como Malaios do Cabo

Com o passar dos anos se tornou um lugar de acolhimento não só para os escravos asiáticos mas para os escravizados vindos de todas as regiões, além de outros estrangeiros muçulmanos, se tornando um bairro essencialmente de imigrantes e com uma cultura única fruto dessa interação entre diversos povos.

Belíssimo bairro Bo-Kaap


Dizem que na construção do bairro, todas as casas eram pintadas de branco, simbolizando que tratavam-se de casas de escravos. Com o fim da escravidão no século XX, seus moradores decidiram começar a pintar as casas de forma bastante colorida, como forma de simbolizar a liberdade e a alegria da região. Hoje há uma norma interna que obriga a cada casa ser pintada de uma cor diferente, nunca repetindo a mesma cor entre uma casa e a outra do lado, dando essa impressão de arco íris (rainbow nation).

Belíssimas casa coloridas do bairro


Considerada ainda uma favela, a comunidade Cabo Malaia resistiu bravamente aos desalojamentos durante o Apartheid e hoje luta contra um processo de revitalização e consequente gentrificação que vem aumentando o custo de vida na região. Hoje os moradores se dividem entre descendentes dos primeiros escravos que fincaram raízes por lá e moram ainda nas mesmas casas lutando para manter as tradições da comunidade com um cada vez maior custo de vida, e os novos moradores atraídos pelo "hype" do bairro.

Durante o passeio passamos por vários pontos da região, com destaque para a primeira mesquita construída no país, a Auwal, que data de 1794, um museu da Iziko que foi criado pela própria comunidade (antes de se tornar museu da Iziko) numa das casas mais antigas do bairro, que data de 1760, além de várias escolas da religião islâmica, religião predominante da região, mas que aos poucos vem cedendo espaço às outras, com a chegada de novos moradores.

Uma das várias mesquitas do bairro

Chegando na parte mais alta da Wale Street, a principal rua do bairro, num campinho onde estava uma gurizada jogando bola ao lado de uma escola comunitária, apreciamos uma linda vista da Table Mountain e da cidade.

Pracinha no alto da Wale Street


Bem em frente dessa pracinha também, o guia nos mostrou onde ficava o Restaurante Biesmiellah, o restaurante mais famoso e procurado de Bo-Kaap e um dos mais famosos da Cidade do Cabo, onde se pode provar a verdadeira e rica comida malaia do cabo!

A comida dos malaios do cabo reflete essa mistura de diversas culturas, o que faz dela uma culinária única e patrimônio imaterial do país, e ali no Biesmiellah dizem ser o melhor lugar para experimentar os variados pratos "malaio cabenses", com destaque para o famoso "Bobotie". Bobotie (se lê, "babuti") é um prato feito com carne desfiada, curry e frutas, principalmente uvas passas, servido coberto com uma camada de ovo e arroz (parecendo um escondidinho) e em alguns lugares também é servido com coco ralado. Tão gostoso quanto exótico, tivemos a oportunidade de experimentar algumas vezes mais tarde na nossa viagem, mas infelizmente não ali no Bo-Kaap, pois o restaurante estava fechado neste dia. Ah, dizem também que o Bobotie é o prato favorito de Nelson Mandela, que passou muitos anos preso na Cidade do Cabo.

Terminamos o passeio na própria Wale Street, na parte mais baixa onde fica o Museu da Iziko e vários ateliers de arte que, embora a maioria seja de donos estrangeiros, tentam preservar a arte e a cultura da região.

Representação de Bo-Kaap numa típica arte cabo malaia

Por mais que a revitalização do bairro esteja à mil e que o bairro seja bastante frequentado por turistas todos os dias, Bo-Kaap ainda é considerada uma região meio "perigosa" da cidade e recomenda-se que, tirando as ruas principais como a Wale Street ou a Church Street e à noite, turistas não fiquem passeando por ali.

Terminado o tour, demos mais uma gorjetinha para o guia e seguimos para dar uma volta na Long Street. A Long Street é a rua boemia da Cidade do Cabo, onde se concentram os principais bares e casas noturnas da cidade, embora tenhamos achado ela mais movimentada durante o dia do que à noite, já que, não sei se porque fomos numa época meio fria, mas o movimento era mais dentro dos bares em si do que na rua mesmo, parece que o pessoal chega lá de Uber direto no bar que quer ir e deu.

Paramos então para tomar uma cervejinha num dos bares mais famosos dali, a Beer House. Cervejaria que se destaca por oferecer 99 rótulos de cervejas em garrafa e mais umas várias torneiras de chope artesanal.

Garotos propaganda

O bar fica no segundo piso de um casarão bem estilo colonial e por dentro tem uma decoração bem "descolada", sendo um lugar bem agradável onde se toma só cerveja.

Decoração descolada da Beer House


Pela dificuldade de escolher entre tantos rótulos (e também pelo preço não muito amigável), pedimos só uma tábua (literalmente) de degustação com 6 tipos de cerveja artesanais diferentes que vem com uma cartela indicando qual ordem tu tem que tomar (da mais fraca para a mais amarga), bem bom! Mas bem pouca quantidade...

Degustando uma cervejinha no fim do dia


Cansados de bater perna o dia todo e da overdose de informações históricas e culturais recebidas, deixamos para conhecer a noite na Long Street num outro dia. Ao invés disso, passamos no Pic n Pay em frente ao hostel e compramos umas pizzas para comer no hostel e umas cervejas. Na área comum do hostel conhecemos o simpático mascote do lugar, um cachorro vir-lata muito brincalhão e que não tinha muita noção do seu tamanho, já que ficava subindo no nosso colo sendo que era quase do meu tamanho hehehe.

Simpático mascote do hostel


Fechamos a noite então comendo uma pizza do supermercado, tomando umas Black Labels e curtindo um joguinho de futebol do campeonato nacional sul africano na TV do hostel.

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