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  • Foto do escritorAriel Farias

ÁFRICA DO SUL 18º Dia - Finalizando a nossa Garden Route em Gqeberha* (Port Elizabeth) (01/12/2017)

* Em 2021 a cidade de Port Elizabeth ganhou um novo nome: Gqeberha, que é o nome dado ao Rio Baakens, rio que cruza a cidade, na língua Xhosa, etnia originária da região antes da chegada dos europeus. A mudança de nome acompanha uma série de iniciativas na região em busca do resgate da cultura dos seus povos originários, os Xhosa e o San. Nesse sentido, também houve alterações no nome do aeroporto e algumas ruas por nomes Xhosa e San.


Dramaticamente apelidei esse dia de "dia do julgamento final", por ser o dia em que iríamos entregar o carro na locadora e ficar sabendo o quanto os danos do acidente com o carro iriam nos custar. Vocês devem ter percebido que eu não lido nada bem com perrengues né? Seguimos então de manhã cedo rumo ao próximo e último destino da nossa Garden Route: a cidade de Gqeberha (no youtube há videos específicos ensinando como se pronuncia), na época conhecida por Port Elizabeth, que fica bem perto de Jeffrey´s Bay, cerca de 77 quilômetros.

Primeira coisa que fizemos na chegada da cidade foi devolver de uma vez o carro na locadora. O local de devolução fica no aeroporto de Gqeberha, que felizmente é conhecido por ser um "aeroporto no meio da cidade", ficando bem dentro da cidade em si e não afastado como a maioria dos aeroportos pelo mundo. Como a cidade é a principal rota de início/fim da Garden Route, havia uma pequena fila para devolver o carro, mas bem fácil de se achar o local exato de devolução da nossa companhia, com placas indicativas das companhias por todos os lados.

Diferente de Johanesburgo, onde a devolução tu precisava jogar a chave do carro em uma caixinha e dava pra ir embora, lá um fiscal veio vistoriar o carro antes da entrega. A vistoria no entanto era bem "matada" e confesso que acho que se ficássemos quietos, a batida e os amassados no paralama por causa do acidente iam ficar por isso mesmo. Mas, lembrando de toda a confiança sulafricana que tanto havia nos chamado atenção até o momento, resolvemos bancar o sincerão e, quando o fiscal perguntou se estava tudo certo com o carro, apontei para o arranhão na lataria e contei que tinha sido culpa nossa. Ele me fez então preencher um documento relatando sobre o estrago e foi bloqueado na hora 600 reais como caução no meu cartão de crédito. Um mês depois, já no Brasil, chegou a conta: recebemos na fatura do cartão de crédito o valor de R$ 1.800,00 reais como resultado do prejuízo. Prejuízos à parte, até que não ficou tão ruim assim, visto que o valor de franquia do seguro do carro era de 4 mil e que não sofremos nenhum dano físico no acidente, o que valor nenhum no mundo pagaria.

Carro devolvido e com ele um peso nas costas liberado, voltamos a ser pedestres e fomos então em direção ao nosso hostel. O hostel que escolhemos foi o Lungile Backpackers, que, além de ser o de preço mais baixo e um dos poucos hostels em Port Elizabeth, ficava bem próximo do Aeroporto, menos de 4 quilômetros. No entanto, apesar de perto, com o sol que estava fazendo e ainda com os arredores do aeroporto sendo um lugar meio isolado, não nos animamos a ir a pé com nossas mochilas dando sopa. Dessa forma, apelamos para o UBER, depois de uma certa dificuldade para conectar o wi-fi do aeroporto (ficamos quase uma hora tentando).

Chegamos bem cedo no hostel e, na hora de fazer o check-in, sofremos o primeiro golpe da viagem (ou então falta de organização do hostel): esse hostel exigia pagamento antecipado pelo cartão de crédito da metade da hospedagem, coisa que eu já havia feito quando da marcação dele no booking.com, ainda no Brasil. No entanto, quando chegamos para fazer o check-in, não nos foi cobrada a outra metade da reserva, e sim o valor integral da diária. Como chegamos meio cansados no dia e meio atordoados ainda da devolução do carro e o stress todo já comentados, na hora nem me liguei e achei que estava pagando somente o valor que faltava, só fui me dar conta no outro dia quando fomos fazer o check-out. Menos mal que pelo menos era um valor bem baixo: cerca de 50 Rands. Como ainda era cedo para entrar no quarto, ficamos na área comum do hostel dando um tempinho até limparem o quarto. O hostel era uma casa de madeira bem bonita, com pé direito alto, e o nosso quarto ficava no mezzanino, numa espécie de "sótão", nem aconchegante. Na parte externa uma área com piscina e churrasqueira bem legal mas que, no dia em que chegamos o pessoal do staff estava fazendo uma confraternização ali e não pudemos utilizar (o que nos deixou meio cabreiros...).

Finalmente então, depois de liberado o quarto, guardamos nossas coisas e, sem perder tempo, já que só teríamos um dia na cidade, chamamos um UBER novamente e se dirigimos ao centro histórico, mais conhecido como CDB, para explorar alguns pontos turísticos de Gqeberha.

Gqeberha é, como o antigo nome sugere, uma cidade portuária, o que faz dela uma cidade bastante importante economicamente para o país. É a sexta cidade mais populosa da África do Sul e a maior da província conhecida como Eastern Cape (cabo do leste). Seu porto se localiza no distrito conhecido como baía de Nelson Mandela, o segundo maior distrito metropolitano do país.

É também conhecida como a capital dos esportes aquáticos do país, atraindo centenas de amantes dessas modalidades todo o ano. Ainda sobre esportes, foi uma das sedes da Copa do Mundo de 2010, com o seu bonito estádio "Nelson Mandela Bay". Aliás, o ex-presidente e herói da luta anti-apartheid é onipresente por lá. Em cada esquina se presencia homenagens a ele.

Como cidade grande que é, possui um centro bastante histórico e ao mesmo tempo bem movimentado, ao estilo dos centros das grandes cidades brasileiras (com muitas lojas, gente por tudo que é lado e áreas bem sujas) e foi pra lá que seguimos para ter as primeiras impressões da cidade. Primeiro descemos no que seria a praça principal da cidade, a Vuyisile Mini Square, onde em volta ficam os principais prédios históricos como a Biblioteca pública, o antigo prédio dos correios, a catedral Church of Saint Mary the Virgin e a prefeitura. Este último fica num prédio muito bonito com uma torre de relógio bem estilo britânico, visto que era ali que ficava a antiga estação ferroviária da cidade.

Vuyisile Mini Square e o Gqeberha City Hall


Todos esses locais são visitáveis e possuem vastos acervos históricos contando a história da cidade. Para quem gosta de história vale bastante a pena. Nós como tínhamos pouco tempo, só curtimos por fora mesmo. Aliás, como o lugar lembrou bastante os centros urbanos brasileiros, não nos sentimos muito seguros e não ficamos dando muita bobeira tirando fotos, embora digam que, comparando à Johanesburgo, Port Elizabeth é bastante segura (o que não quer dizer muita coisa não). Sendo assim, seguimos pela rua principal do centro, a Baakens Street, que fica bem em frente à prefeitura, na continuação da praça. Há também Free Walking Tours na cidade, que devem ser bem legais e trazer muita informação histórica, mas que infelizmente no horário em que chegamos já tinham acabado.

Na Baakens Street aproveitamos para passear de uma ponta a outra da avenida e dar uma olhada nas diversas lojinhas que tem por ali, além de procurar um lugar para almoçar já que, meio da tarde, ainda não havíamos comido nada direito. Optamos por uma espécie de "KFC caseiro", um fast-food de frango frito que acreditamos que era nacional lá da África do Sul. Sendo um dos pouquíssimos estrangeiros que devem passar por ali, os atendentes não estavam muito acostumados a falar em inglês e foi um pouco difícil a comunicação mas conseguimos pedir dois lanches de frango com um tempero bem estranho e bastante gordurentos...

Depois do almoço, seguimos então em direção ao talvez mais famoso ponto turístico de Gqeberha: a Donkins Reserve que, por sorte fica na rua de trás da Baakens Street, apenas subindo uma colina beeeemmm considerável.

A Donkins Reserve é um grande espaço aberto na cidade que foi proclamada como um espaço público perpétuo pelo fundador da cidade, o Sr. Rufane Donkin. Ali ele construiu também uma pirâmide que mais tarde foi tombada como patrimônio histórico em memória a sua falecida esposa Elizabeth, a qual ele também já havia dado o nome da cidade em homenagem (isso que é amor hein?).

O local fica numa colina que possui uma vista estratégica (e muito bonita) para o porto, inclusive fica dentro da Donkins Reserve também um farol que data de 1861. Hoje, muito em função da Copa do Mundo de 2010, o local foi transformado em atração turística. É ali que fica o centro de informações turísticas da cidade além de alguns restaurantes e conta tambémm com diversas intervenções artísticas espalhadas pelo parque.

Donkins Reserve com a Pirâmide e o Farol ao fundo

Essas intervenções artísticas fazem parte de uma iniciativa muito legal da cidade que é o Route 67: são 67 intervenções artísticas espalhadas pela cidade em homenagem aos 67 anos que Nelson Mandela dedicou na luta pela democracia sulafricana. Todas as obras tem como tema os vários momentos na vida de Nelson Mandela além de momentos importantes da história da cidade. No prédio da secretaria de turismo que fica na Donkins Reserve há um tour com saídas regulares onde é possível percorrer e conhecer todas as 67 obras de forma guiada. Na Donkins Reserve as principais obras são o mosaico junto à escadaria que leva à pirâmide e ao farol e o monumento que celebra a primeira eleição democrática do país em 1994, o qual trata-se da silhueta de Nelson Mandela "puxando" uma fila com várias pessoas das mais variadas etnias, para votar nas eleições. Essa é talvez a mais famosa obra das 67 e rende uma fotinho clássica entre os turistas que visitam a cidade.

Escadaria com mosaico e monumento em homenagem à primeira eleição democrática no país


Ah, também na Donkins Reserve fica um mastro com a bandeira da África do Sul que dizem ser a maior e mais alta bandeira hasteada em todo o país.

Maior bandeira da África do Sul

Talvez por se tratar de dia de semana e ainda estar bem nublado, apesar de ser o local mais turístico da cidade, a reserva estava bem vazia, então ficamos bem pouco tempo por ali e já descemos novamente para o centro dar mais uma passeada, mas parece ser um lugar muito legal para passar uma tarde de sol num fim de semana.

A Donkins Reserve fica em cima de um morro bem alto do lado da CBD. Felizmente há uma escada rolante (meio escondida é verdade e bem lotada) urbana, que faz a ligação entre a Donkins e a Baakens Street para facilitar a subida e descida íngremes.

Mais uma breve olhada nas lojinhas da avenida principal da CBD depois, resolvemos voltar pro hostel. Tal como Johanesburgo e praticamente todo o continente africano, o transporte público em Gqeberha é feito por vans particulares que fazem os trajetos mais bizarros e aleatórios possíveis. Porém, diferente de Jozi, dizem que lá é tranquilo e seguro de turistas utilizarem as vans para se locomover. O problema é descobrir qual pegar. No final da Baakens Street ficam várias vans com os cobradores gritando os destinos e chamando passageiros alucinadamente. Como nós não sabíamos nem o bairro nem a região que ficava o nosso hostel, optamos por chamar um Uber mesmo. Sendo assim, fomos atrás de um Wi-fi para poder chamar o bendito (perrengues de quem é mão-de-vaca e não compra chip local). Na Baakens Street não achamos nenhum sinal disponível, sendo assim, pegamos a escada rolante novamente e voltamos para a rua de cima na Donkins Reserve, já que ficam alguns hóteis por ali e algum teria que ter wi-fi né? Fomos em duas portarias de hotel então e nenhum deles tinha wi-fi (ou não quiseram deixar a gente usar). O terceiro hotel que fomos tinha um pub no subsolo, então resolvemos entrar. Se o Pub não tivesse wi-fi pelo menos daria pra relaxar um pouco tomando um chope. O Pub novamente era aqueles típicos pubs ingleses estereotipados, esse inclusive contava com bandeiras do Reino Unido nas mesas. Além disso, enquanto que na cidade não havíamos visto ainda nenhuma pessoa branca, dentro do Pub havia somente brancos com feições europeias, parecia que tínhamos nos teletransportado para a Inglaterra, bem bizarro!

Quem olha na foto diria que estamos em Londres ou Manchester


Depois de uns dois chopes, perguntamos para a tiazinha que servia se ali tinha wi-fi. Acontece que a tia nem sabia o que era isso... Por sorte uma menina que estava ouvindo nossa conversa ficou com pena e se dispôs a chamar um Uber para nós do celular dela. Pegamos um Uber bem fanfarrão e conversador que nos ensinou um monte de palavras em Xhosa, aquela língua bem exótica para nós cujo principal som são estalos na boca (ao estilo do novo nome da cidade). Claro que não aprendemos a maioria, mas foi bem divertido. Quem puder procurar no Youtube pessoas falando Xhosa, indico fortemente.

Pedimos para descer num Pic n Pay para comprar suprimentos para levar pro hostel. Infelizmente não tinha nenhum muito perto do nosso hostel e tivemos que descer num que ficava uns 2 quilômetros adiante e novamente, depois das compras, penamos para catar algum sinal de wi-fi perdido para chamar mais um Uber para voltar pro hostel. Por sorte junto ao Pic-n-Pay havia um banco que, apesar de fechado, possuía sinal de internet liberado.

Depois de descarregar nossas compras, fomos então dar uma volta e conhecer os arredores do hostel. O hostel fica numa região bem turística, bem próximo da orla (uns 500 metros), junto à Kings Beach, praia mais turística (e rica) da cidade. É por aquela região que fica o píer, o Museu Marítimo BayWorld, museu de cultura e história natural bastante conceituado não só na África do Sul mas em toda a região sul do continente, com uma vasta informação sobre a vida marinha da região além de contar com um serpentário e um oceanário, o parque aquático Splash Waterworld, um complexo de diversões gigantesco, e o hotel cassino Boardwalk, que ocupa diversos quarteirões em frente à orla e parece mais uma mini cidade. Final da tarde, Kings Beach também é o local onde o pessoal se reúne para ver um magnífico pôr-do-sol mas, como o dia estava nublado, demos apenas uma caminhada pela praia bem vazia, passando pelo píer.

Praia de Kings Beach


Kings Beach é uma praia bem "urbana", com muitos prédios junto à orla e um calçadão bem movimentado.

Depois de molhar os pés no mar, primeiro seguimos em direção oeste da praia e chegamos até um parque que fica junto ao Splash Waterpark. O parque era bem bonito e agradável, impressionou pela limpeza impecável e seus lagos e fontes bem cuidados mas, bem vazio (novamente não sabemos se por ser dia de semana ou pelo tempo feio), dava um certo ar de melancolia. Achamos bem estranho um parque daqueles não estar sendo aproveitado pela população.

Bonito parque na Kings Beach


Com a noite chegando, fomos voltando devagarzinho. Dessa vez seguimos em direção leste na rua a beira a mar, já pensando no que iriamos jantar. Um bar/restaurante bastante indicado por blogueiros na cidade é o "Beershack", que fica na avenida à beira mar quase na esquina da rua do nosso hostel, dentro de um complexo comercial com mais outras diversas lojas e restaurantes. O destaque do lugar são as cervejas artesanais e as pizzas, mas se serve de tudo por lá. Sendo assim, fomos dar uma conferida. Passamos na frente do lugar e, pra variar em se tratando de indicações de restaurantes na Garden Route, achamos ele muito elitizado pro nosso gosto. Já estávamos nos dirigindo pro MacDonald´s da esquina quando um casal que estava ficando no mesmo hostel que a gente nos viu de dentro do Beershack e nos chamou para se juntar com eles à mesa. Achamos bem legal o casal ter nos convidado, já que havíamos apenas nos visto de relance no hostel quando chegamos, então resolvemos topar. A menina era uma enfermeira norueguesa que foi fazer um trabalho humanitário no Malawi onde acabou conhecendo o namorado, natural de lá mesmo, que estava com ela.

Colegas de Hostel

Bem legais os dois, fizeram questão de pagar os vinhos que tomamos juntos. Tomamos também uns chopes e, para comer, pedimos um Hamburguer com fritas. Bonzinho mas pequeno. Estilo dessas hamburguerias gourmet que temos agora por aqui. Quanto aos preços dos lanches e das bebidas: baratos para nós brasileiros comparando com restaurantes do mesmo nível por aqui, mas bem mais caros comparados ao padrão da África do Sul, dá pra encarar.

Depois de jantados, retornamos então ao Hostel, tomamos mais algumas latinhas que havíamos comprado no supermercado e nos recolhemos.

Gqeberha é uma cidade histórica e bastante importante na região, com bastante atrativos turístico e que está de parabéns pelas iniciativas tanto artísticas quanto de recuperação das culturas originárias, como por exemplo a própria alteração do nome para um nome Xhosa, indo de encontro ao eurocentrismo hegemônico dos países colonizados. No entanto, não achamos ela muito amigável ou agradável de se passear não. Talvez essa percepção tenha sido por termos visitado ela num dia de semana, frio e nublado ainda por cima. Ou então, devido ao pouco tempo na cidade, não a tenhamos aproveitado como ela merece. Definitivamente temos que voltar lá um dia.

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