Este dia reservamos para fazer a visita de um dia inteiro num santuário de elefantes. Antes, uma pequena contextualizada mais a fundo daquilo que eu já havia comentado aqui no blog sobre o turismo de exploração de animais no sudeste asiático: quando se pensa em Tailândia, sempre vem a mente aquelas cenas com turistas montados em elefantes (lembra o Indiana Jones inclusive). Quando pesquisávamos sobre as principais atrações turísticas de Chiang Mai, muitas delas envolviam: ou andar de elefante, ou "circos" com elefantes, atrações onde os elefantes ficam de pé, pintam quadros com a trompa, dançam, etc. Acontece que quando envolve animais (ou mesmo humanos no caso de visita a tribos indígenas por exemplo), sempre tem que se ter um pé atrás com essas "atrações turísticas" e pesquisar mais a fundo. Dessa forma, acabamos descobrindo que não só subir nas costas de um elefante é terrivelmente cruel para a musculatura do animal, como o tratamento dado a eles nesses circos é uma coisa desumana. Felizmente, nestas pesquisas descobrimos que existem várias ONGs em toda a Tailândia que resgatam estes animais maltratados e que este tipo de prática vem diminuindo aos poucos graças a intervenção destas. Estes locais são chamados de "santuários de elefantes" e, uma das formas que elas utilizam para arrecadar fundos é oferecer (a um preço um pouco salgadinho, é verdade) visitas guiadas, podendo ser de meio-dia, um dia inteiro ou pernoite, onde eles mostram e ensinam para o turista o trabalho que eles fazem no local e ainda por cima o visitante, durante o período da visita atua como se fosse um voluntário, dando comida e banho para o elefante, entre outros cuidados. Ficamos entusiasmados com o que lemos sobre os santuários e resolvemos fechar um pacote de um dia no Elephant Nature Park, um dos mais famosos de Chiang Mai na época. Hoje em dia se multiplicaram o número de santuários na região, inclusive levantando dúvidas do próprio governo tailandês sobre o real propósito de vários destes (dúvidas se não são só fachadas para enganar turistas), portanto é importante pesquisar bem antes de escolher um local para a visita. O Elephant Nature Park é um dos pioneiros em Chiang Mai, então é bastante confiável.
A procura pelas visitas neste santuário é bastante grande, então resolvemos fechar pelo site mesmo, ainda no Brasil, com bastante antecedência. Quando reservamos, o valor da visita de um dia inteiro por pessoa foi de 2500 baths (250 reais!), bem carinho se comparado ao preço dos "circos" que maltratam elefantes, que chegam a cobrar apenas 100 baths pela visita. Havia ainda uma opção de só meio dia de visita, pela metade do preço, mas este, diferente da visita de dia inteiro, não incluía café da manhã e almoço e também não incluía poder dar banho nos elefantes (que nós queríamos muito!). Pensamos: "ah, se inclui refeições tá valendo". Isso porque os ingênuos aqui não sabiam ainda o quão barato é a comida na Tailândia (tem dias que gastávamos menos de 100 baths cada um por todas as refeições). Ok, acabamos extrapolando um pouco no orçamento mas foi por uma boa causa, valeu a pena.
Feito a contextualização, acordamos cedo e ficamos na frente do hostel esperando a van do Elephant Nature Park nos buscar para o passeio. Durante a espera ficamos observando um grupo de mulheres no bar/inferninho ao lado tomando cerveja àquela hora da manhã e junto na mesa um gringo quarentão se achando o gostosão elogiando as tailandesas, mais uma das bizarrices do turismo sexual de Chiang Mai.
A van chegou pontualmente e, acabamos descobrindo que um casal de canadenses que estava no nosso hostel também ia fazer o passeio conosco.
Partimos então em busca dos outros passageiros que fechariam nosso grupo: um casal de brasileiros de Brasília que estavam em lua-de-mel, duas amigas norte-americanas e, por último, passamos num resort podre de chique buscar um casal mais velho, também norte-americano, que pensávamos ser esnobes por causa né, da ostentação, mas não, eram muito simpáticos e divertidos (eita preconceito).
No caminho uma televisão dentro da van mostra um pouco da história do santuário e relata, com imagens e vídeos terríveis, os maus-tratos a que são submetidos os elefantes nas atrações turísticas. Para fazer os elefantes pintarem quadros, por exemplo, os "adestradores" (para não dizer torturadores), espetam um gancho na orelha dos animais até eles levantarem a tromba e obedecerem. O pior é que a maioria desses animais são torturados desde bebê, roubados dos pais para atuarem nestes espetáculos. As cenas são fortes e chocantes.
Chegamos cedo ao santuário e fomos direto para uma mesa tomar café da manhã (não lembro direito o que era mas lembro que tinha macarrão e uma boa variedade de frutas). O santuário é bem extenso, com bastante área verde e um rio e fica na zona rural de Chiang Mai.
Aliás Chiang Mai também é bastante visitada por causa de sua zona rural, que conta com natureza abundante: trilhas, morros, cascatas. Também dizem ser um ótimo local para turismo de aventura: fazer rapel, tirolesa, etc. Infelizmente, devido ao pouco tempo na cidade, não pudemos conhecer a fundo esta faceta de Chiang Mai.
Após o café-da-manhã, fomos oficialmente apresentados a nossa guia, a tailandesinha Poor (ou Pur, não existe tradução em caracteres romanos), que já estava na van junto com a gente, uma menina muito sorridente com um inglês tenebroso, que nos acompanhou o resto do dia. Primeiro ela contou sobre os cuidados com os elefantes, que todos eles tem nome e são "adotados" por alguém, inclusive uma das modalidades de visita é você passar o dia cuidando de um elefante específico, como se fosse o adotante deste. Mostrou um painel com os "antes" e "depois" de alguns deles e que todos tem acompanhamento médico regular pois a maioria vem de uma vida inteira de maus-tratos.
Fotos do antes e depois do "Ponsawan" um dos elefantes resgatados e quadro com a lista de voluntários do parque
Ela também mostrou que cuidam de outros animais perdidos, como gatos, cachorros e até uma vaca que apareceu por lá.
Inclusive tem mesas na área dos visitantes só para animais.
Outros animais resgatados pelo parque
Quando questionado como eles resgatam estes animais, eu pensava (romanticamente) que eles iam, na calada da noite, nos locais que os elefantes estavam sendo maltratados e os resgatavam com fugas arriscadas e heróicas. Mas não, na verdade eles compram os elefantes deste locais, tudo de forma legal porém com uma certa barganha. Não preciso dizer que os que são vendidos para os santuários são sempre os que já estão na capa da gaita né, afinal, os que estão com a musculatura inteira ainda e dessa forma dando lucro para os exploradores turísticos, dificilmente são vendidos, a não ser por altos preços.
Partimos então para a primeira interação com os animaizinhos: dar comida para os elefantes! Nos dão uma cesta e ficamos num deck alto, distribuindo comida para os bichinhos. E é impressionante como eles pegam com a tromba, levam à boca e destroçam uma melancia inteira numa dentada. Melão e abóbora também (haja comida, acho que por isso é tão caro a visita hehehe).
Dando comida para os elefantes: melão, abóbora e melancia
Em seguida descemos do deck e fomos para "campo aberto", agora sim andar lado a lado com os bichanos. Somos avisados como se aproximar dos elefantes: não ficar na frente nem atrás deles, chegar pelo lado e cuidar ao seu redor pois, apesar de grandes eles são bem silenciosos (é verdade), não se percebe a aproximação deles e quando se vê pode ter um elefante passando por cima de ti (os elefantes estão entre os animais que mais matam humanos no mundo).
Primeiro contato com os Elefantes (dá pra ver que eu estou meio cagado ainda para me aproximar deles)
Outra coisa interessante é que os que ficam soltos no santuário são só as fêmeas. Os machos, que são os que tem as presas de marfim, são muito selvagens e ficam presos. Percebemos na pele isso pois se aproximamos das grades deles e eles ficaram furiosos, um até cuspiu em mim (pelo menos eu espero que tenha sido cuspe).
Chegou a hora do almoço e agora sim, um buffet livre de verdade (depois do fiasco daquele do passeio de barco no Chao Phraya)! Vários tipos de massas, frango, frutas, uma delícia! Tiramos a barriga da miséria hehehe. Depois do almoço ficamos mais um tempo na mesa batendo um papo com nossos colegas de grupo. O casal brasileiro estava fazendo o caminho inverso do nosso: eles primeiro foram para as praias e agora estavam subindo, tendo como último destino Bangkok. Nos deram algumas dicas de Koh Phi Phi, disseram que tinham umas festas em uns barcos que era uma loucurada, tudo liberado, bebidas, drogas... e que tinha um bar que tinha um ringue de Muay Thai no meio que qualquer um podia subir e desafiar alguém do bar, muito louco. O casal de americanos contou que eram aposentados e estavam viajando o mundo, que o lugar que eles mais tinham gostado foi a Índia e que estavam em Chiang Mai para o festival das lanternas, que haviam comprado o ingresso para a festa privada no dia da lua-cheia (uma que é só para estrangeiros e é caríssima). Também uma hora contou que era primo do ator que faz o Abraham no seriado Walking Dead, e foi bem na época de mudança de temporada, no episódio que o Neegan mata dois protagonistas, mas fica o mistério de quem seriam os dois (quando retornou a nova temporada, descobre-se que foi justamente o Abraham). O casal já sabia, mas disse que não ia dar spoilers, hehehe.
No intervalo do almoço ainda passamos na loja de souvenires do parque, onde tinha que pedir permissão pros gatos do santuário para poder olhar as camisetas. Até pensamos em comprar uma camiseta de lembrança que era bem bonita mas acabamos não comprando.
Na parte da tarde fomos dar mais uma volta com os elefantes e conhecemos um bebê elefante que nasceu ali, algo raro pois os machos ficam separados das fêmeas no parque (a natureza conseguiu dar um jeito).
Bebê elefante e sua família (até cachorro eles tem), aquela família que o "cidadão de bem" brasileiro não gosta muito, com duas mamães
Fomos numa outra parte do parque com vários elefantes andando em grupos e pudemos observar eles se "sujando" de barro e de grama. Nos contaram que eles fazem isso para se proteger do sol e de intempéries.
Elefantes "se sujando" e eu já bem menos cagado para chegar perto deles
Chegou então a parte mais esperada do passeio: dar banho nos elefantes! Na verdade é um negócio meio pega-turista, pois os elefantes já estão limpos, eles atraem eles para o rio com comida e te dão um baldinho onde tu finge que lava os elefantes. Como fazia bastante calor, é legal pois você acaba se molhando bastante.
Entramos todos então com água pelos tornozelos num rio cheio de barro e possíveis bichos de pé e começamos a guerrinha de baldinho. Na verdade os elefantes são lavados sim pelos voluntários do parque, mas com sabão esponja e esfregão, para tirar bem as "cracas" que ficam na sua pele, e é bastante importante este banho. No nosso caso foi só brincadeirinha mesmo mas bastante divertido e deu para ficar mais um pouquinho em contato com os animaizinhos.
"Dando" banho nos elefantes ou "tomando" banho?
Finalizado o "banho", nos despedimos da Poor e ficamos mais um tempo no deck observando os elefantes até a hora da van nos levar de volta para o hostel.
Despedindo-se da nossa guia "Poor" e dos bichanos do parque
No caminho de volta, nos despedimos do pessoal e combinamos de almoçar no outro dia com o casal de canadenses que estavam hospedados com a gente que disseram que a comida do restaurante do hostel era excelente, que a Lynn (que além de tudo ainda era cozinheira) era uma grande chef de cozinha. Pedimos para a van nos deixar no Tha Pae Gate, pois queríamos ainda dar uma volta para conhecer a China Town de Chiang Mai.
A China Town de Chiang Mai fica ao norte, costeando o Ping River e fora da muralha, em direção nordeste do Tha Pae Gate e é bem menor e menos movimentada se comparada a de Bangkok. Ali tem alguns templos bonitos chineses, um mercado grande de flores bem famoso na cidade, com plantas bem bonitas e exóticas e o seu ponto principal que é o Warorot Market, um mercadão dentro de um prédio fechado, daqueles que se encontra de tudo mas principalmente comida (com destaque para os frutos do mar), bem no estilo dos mercados municipais que tem nas principais cidades brasileiras (mas no estilo asiático, ou seja, com uma higiene bem questionável...).
Havíamos lido que por ali havia um terminal de Songtaews amarelos que iam até as Hot Springs de San Kamphaeng, as quais planejávamos ir no domingo. Demos uma volta rápida no mercado Warorot e no mercado de flores apreciando a "exoticidade" desses locais e depois fomos procurar o tal terminal mas acabamos não encontrando.
Bonito fim de tarde à beira do rio e mercado de flores da China Town de Chiang Mai
Com um bonito céu de fim de tarde, fomos retornando então para o hostel, não sem antes dar uma passada novamente no Ploen Ruedee Night Market para aproveitar a noite tomando uma Chang.
Fomos também até a ponte que cruza o Chao Phraya também para ver se já havia alguém realizando o ritual de soltar barcos de folha de bananeira no rio em função do festival das lanternas. Até tinha algumas pessoas fazendo isso, mas bem pouca gente. Em compensação, a ponte em si fica bem movimentada a noite, com bastante jovens curtindo e apreciando a vista do rio, então pegamos umas cervejas no 7eleven e ficamos um tempo por ali também.
Agora sim, hora de voltar para o hostel, mas resolvemos ainda fazer mais uma foot massage, num local que as pessoas faziam a massagem ali na rua mesmo. A Juju deu a ideia de aproveitar para treinar o tailandês com a moça que estava fazendo a massagem nela, fazendo umas perguntas que nós havíamos aprendido como por exemplo Kuhn Chun Arai (como você se chama). Eu falei que era bobagem, que a mulher tava ali fazendo a massagem e não ia querer treinar tailandês com a gente. Mas no fim a Juju conversou com a mulher mesmo assim e ela achou o máximo, respondeu as perguntas com a maior simpatia. Às vezes a gente fica com receio de puxar assunto com as pessoas por não saber falar a língua delas ou achar que elas são "fechadas" mas o que a gente aprendeu nessas nossas viagens é que na maioria das vezes as pessoas querem sim conversar, querem conhecer outras culturas tanto quanto nós, basta um dos dois dar o primeiro passo.
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