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  • Foto do escritorAriel Farias

SUDESTE ASIÁTICO 15º Dia - Visitando um campo de concentração do Khmer Rouge (18/11/2016)

Pesquisando as sugestões de locais para comer em Siem Reap, havia 2 que nos despertaram interesse: o Bug´s Cafe (que você pode ver mais neste endereço aqui: https://bugs-cafe.squarespace.com/), que quando a Juju descobriu do que se tratava imediatamente foi riscado da nossa lista, e o Peace Cafe (http://www.peacecafeangkor.org/), que tem a proposta de ser um lugar meio zen, frequentado por monges, com aulas de yoga em alguns horários e no cardápio sucos e salgados exóticos.

Acordamos então e fomos tomar café no Peace Cafe. Vimos no Google Maps que ele se localizava na rua do Siem Reap River, então seguimos costeando o rio. No caminho, novamente um monte de criançada com uniforme de colégio seguindo uma professora, só que desta vez eles estavam com sacolas e recolhendo o lixo da beira do rio. Achamos aquilo sensacional, tinha que fazer isso aqui no Brasil também nas escolas, ensinar desde pequeno a respeitar o meio ambiente (e de quebra mostrar a importância do trabalho de um gari, que aqui no Brasil é visto como um subemprego e "coisa de pobre").

Estudantes cambojanos recolhendo o lixo à beira do rio

Quando chegamos então ao endereço que o Google Maps indicava, pra nossa surpresa não tinha nada, só umas outras lojas, se não me engano uma borracharia e uma mecânica. Demos mais uma volta na quadra e não encontramos nada. Ficamos putos porque não encontramos a birosca? Não! Pelo contrário, acabamos conhecendo outra parte da cidade que não iríamos conhecer se tivéssemos achado o café de primeira. Viajar é bom por isso, até quando tu se perde é legal. Mas estávamos com fome, então fomos voltando pros nossos restaurantes de 1 dólar para tomar café.

Resolvemos então alugar uma scooter ou uma bicicleta para de tarde para procurar o tal do café e também para visitar o Wat Thmei, um dos diversos campos de concentração da época do khmer rouge que existem pelo Camboja. Várias lojas pelas ruas ofereciam o aluguel de bicicletas e scooters por 1 e 2 dólares respectivamente o dia, mas como estávamos com medo de cair no golpe aquele de, na hora de devolver o veículo dizerem que tu quebrou alguma coisa e te cobrarem o valor de 3 motos (depois limos que esse golpe se aplica mais na Tailândia, nos outros países é mais raro), resolvemos alugar com os guris do hostel mesmo. Optamos pela bicicleta porque com a scooter se corre outro risco, o de ser parado por algum policial corrupto que, ao ver que tu é gringo, inventa qualquer desculpa pra te extorquir dinheiro (capacete com fecho estragado, luz da moto desligada, moto arranhada, etc).

Passamos o resto da manhã na piscina para amenizar o calorão. O Phey nos mandou vários whats oferecendo o passeio para as vilas flutuantes (ele já tinha oferecido este passeio diversas vezes, ele é bem popular aqui em Siem Reap), um passeio que tu faz de barco para visitar uma comunidade ribeirinha bastante simples que fica às margens do Siem Reap River. Até acho que deve ser legal esse passeio mas optamos por não fazer por 2 motivos: o primeiro é que é o mais caro de todos, 14 dólares por pessoa e ainda se paga o barqueiro a parte, mais 5 dólares. Em segundo lugar, neste passeio se visita vários orfanatos no caminho, e passeio turístico em orfanato no Camboja é furada, vou explicar porque:

Como se sabe, o khmer rouge foi responsável pela morte de um quinto da população do país, a grande maioria adultos que eram considerados "inimigos" do regime. As crianças geralmente eram poupadas e recrutadas para o exército khmer, o que gerou uma legião de órfãos ganhando o Camboja a alcunha de "o país de órfãos". Com o fim da guerra e a vinda da ajuda humanitária internacional, construiu-se então diversos orfanatos pelo país para abrigar os órfãos do khmer rouge. Estes orfanatos, por sua história peculiar e pela grande quantidade de órfãos, passaram a atrair voluntários do mundo inteiro e os Cambojanos viram ali a oportunidade de explorá-los turisticamente.

Visitar orfanatos então se tornou uma das principais atrações turísticas do país até hoje, só que, o problema é o seguinte: o khmer rouge governou o país até 1979, como que ainda existem órfãos do regime de terror se isso foi à mais de 30 anos atrás? E é aí que acontece o golpe. Não existem mais órfãos no Camboja hoje em dia (pelo menos não numa quantidade absurda remanescente de um genocídio), estes orfanatos que os turistas visitam hoje em dia, a maioria das crianças tem pai e mãe e, dizem que os pais recebem um dinheirinho para deixar as crianças lá durante o dia em que ocorre as visitas turísticas, e depois buscam mais tarde, que sacanagem hein? Por esse motivo também que não quisemos fazer o passeio para as vilas flutuantes.

Voltamos ao hostel à tarde e os guris da recepção já estavam nos esperando com as bicicletas. Custou 3 dólares cada uma a diária, mais caro do que se fossemos de Tuk Tuk, mas pelo menos iríamos fazer um exercício. As bicicletas eram daquele estado de sempre, parecendo que eram do tempo do império khmer. Tentamos perguntar para eles também umas três vezes se era obrigatório o uso de capacete mas eles não entenderam, então ficamos sem mesmo.

Seguimos então com nossas bikes pela rua principal, a mesma do hostel, em direção ao Wat Thmei (a Sivutha Boulevard), no meio do trânsito caótico de Siem Reap. No caminho vimos uma barreira policial e vários turistas de Scooter sendo abordados (demos graças a deus então que optamos pelas bicicletas). 20 minutos depois, chegamos ao Wat Thmei.

Wat Thmei
O Wat Thmei é um templo budista, utilizado pelo khmer rouge como campo de concentração durante os anos 1975 - 1979, um dos diversos que existem no país. Como a religião havia sido proibida pelo regime, o local foi invadido, destruída suas estátuas budistas e utilizado para aprisionar e exterminar seus inimigos.

Hoje o templo foi reconstruído e transformado em uma espécie de memorial do genocídio, possuindo em seu pátio diversas informações sobre o período desde o início da ascensão do khmer rouge com a tomada de Phnom Penh até a época em que foi transformado em um campo de concentração.

Cartazes no Wat Thmey mostrando a evacuação de Phnom Penh pelo khmer rouge; a primeira foto mostra uma família que foi desmembrada, trabalhando nos campos


Além disso, após a guerra foram encontradas no local milhares de ossadas enterradas pertencentes às vítimas do khmer rouge, que hoje estão expostas em "altares" no pátio do templo.

Ossadas dos mortos no campo de concentração


Falando mais um pouquinho agora do khmer rouge (já que havia prometido no outro post), este era formado por um grupo extremista, liderado pelo ditador Pol Pot, que, aproveitando-se da instabilidade política e econômica instaurada como consequência da guerra do Vietnã e da destruição causada pelos bombardeios norte americanos, encontrou a brecha para tomar o poder no Camboja. O khmer rouge se dizia um grupo marxista e tinha como objetivo implantar o comunismo no país o transformando numa grande "fazenda cooperativista" em que todos trabalhassem no campo para a exclusiva subsistência do grupo. Eles então, num certo dia, invadiram a capital Phnom Phenh, depuseram o governo da época e, com a falsa notícia (olha as fake news aí fazendo estragos políticos) de que a cidade seria bombardeada pelos EUA naquele dia, expulsaram as pessoas de suas casas e as levaram para as zonas rurais do interior do país. Nem preciso dizer então que o regime implantado pelo khmer rouge não tinha nada de comunista, se tratando na verdade de uma ditadura fascista e sanguinária. Imediatamente à evacuação de Phnom Penh, todos os opositores do regime foram assassinados, além dos intelectuais do país (diz-se que pessoas que tinham curso superior, sabiam falar outra língua ou simplesmente usavam "óculos", foram assassinadas), religiosos e pessoas com deficiência que não servissem para realizar trabalhos braçais. Cerca de 25% da população foi assassinada num episódio que ficou conhecido na história como o genocídio cambojano (entrando no grupo dos genocídios que ocorreram na humanidade). O resto da população foi levada para realizar trabalhos forçados nos campos e, simultaneamente foram criados campos de concentração para aprisionar qualquer um que se rebelasse contra o khmer rouge ou não realizasse os trabalhos forçados de forma adequada.

Mapa dos campos de concentração no Camboja

Muitos também morreram no caminho que durava dias de Phnom Penh para o campo, ou de fome ou de cansaço.

O reinado do khmer rouge durou até 1979, quando as tropas vietnamitas invadiram o país e libertaram a população nos campos de trabalhos forçados (mais ou menos...). Pol Pot no entanto não chegou a ser julgado pelos seus crimes, foi assassinado em 1998 por ex-companheiros (somente em 2000 os executores do genocídio foram a julgamento).

Foto com os líderes do khmer rouge que foram indiciados por crime de genocídio em 2000.

Durante os 4 anos em que durou o regime, o país mudou de nome para "República da Kampuchea", além de alterar sua bandeira, seu dinheiro, enfim, tudo foi modificado pelos ditadores. Um filme muito bom que retrata esse período macabro é o "First They Killed My Father", produzido pela Angelina Jolie e disponível no Netflix.

Voltando agora a nossa visita ao local, brasileiros que somos, com medo de que roubassem as bicicletas, já que não tinha no lugar um local para guardá-las, nos revezamos para a visita ao templo. Enquanto um ficava no pátio cuidando das bicicletas, o outro entrava para olhar. Foi aí que levei o primeiro golpe da viagem: estava eu ali de frente à estátua de Buda dentro do templo quando chega uma fofíssima criança vestida de monge e puxa o meu braço. Ele então põe na minha mão três incensos e pede pra eu acendê-los para oferecer ao Buda e depois fazer as três reverências aquelas em direção à estátua. Não resisti ao monge mirim e acabei fazendo tudo que ele pediu até que, terminada as três reverências, ele se vira pra mim com a mão aberta e diz: "one dollar". Pensei na hora: não acredito que até agora não tínhamos caído em nenhum golpe e fui cair logo no de uma criança! Meio puto, me lembrei então que a Juliana tinha uns dólares velhos na bolsa que não aceitavam mais e fui lá atrás dela pedir uma nota pra dar pro guri, isso com ele correndo atrás de mim e gritando sem parar: "one dollar, one dollar". Dei a nota velha pro guri e consegui me livrar, não sem antes já ter umas 4 crianças em volta também de olho no dólar do mini monge.

Templo budista que faz parte do Wat Thmei

Saímos então do templo e fomos procurar o tal do Peace Café. Pelas fotos do site ele ficava na margem do rio, então fomos costeando o Siem Reap River à procura. Aproveitamos e demos uma volta de bicicleta "por dentro" da região, conhecendo mais um pouco as casas e as ruas adjacentes à avenida, a maioria bem simples e com chão de terra.

Chegando no café, o lugar é bem agradável até, com as mesas dispostas num jardim bem bonito, mas não é o nosso tipo de lugar (muito elitizado). O problema de seguir sugestões de lugares para comer em blogs de viagem é esse, muitas vezes o pessoal sugere lugares mais requintados e turísticos, mas nós já preferimos comer nos lugares mais desconhecidos mesmo, onde come a população local (e de preferência onde é mais barato). Como já estávamos ali mesmo e estava começando a cair uma chuva bem fininha, resolvemos aproveitar e tomar um chá e um suco verde (4 dólares o suco, uma facada!) pra esperar a chuva passar.

Peace Café

Só que a chuva piorou, e muito, um aguaceiro! Aquelas que não tinha cara que iria acabar tão cedo. Esperamos quase uma hora e então, vendo que as ruas iam lentamente se alagando, resolvemos encarar.

Chuvarada pegando!

Fechamos nossos tênis numa sacola plástica (em viagens só levamos o par de tênis dos pés) para não molhar e fomos pedalando na chuva mesmo, de pés descalços. Tomamos um caldo, sujando as costas com o barro que levantava das rodas e em muitas ruas que tínhamos que parar para esperar o trânsito, apoiávamos os pés no chão e ficávamos com eles completamente embaixo d´água (sim, naquelas ruas cheias de lixo e esgoto de Siem Reap), não sei como não pegamos uma leptospirose no caminho.

Chegamos no hostel ensopados e devolvemos as bikes pros guris da portaria que já estavam lá nos esperando com guarda-chuvas (acho que esse dia eramos os únicos hóspedes do hostel), tomamos um bom banho quente, limpamos bem os pés hehehe e, fomos descansar? Claro que não! Era nossa última noite no Camboja então sem pensar muito (e como já tinha parado a chuva) seguimos para a Pub Street para aproveitar.

Mas primeiro fomos conhecer um dos tantos mercados de artesanato de Siem Reap, o Angkor Night Market (ANM Khmer market), que fica a duas quadras "pra trás" do hostel, e é um mercado bem grande, menor é claro, do que o Old Market, mas na mesma linha, com um monte de bugigangas pra turista ver e comprar, sempre naquele mesmo esquema de pechinchar tudo.

Angkor Night Market


Também na entrada do mercado ficavam vários barzinhos, alguns com música ao vivo, bem agradável.

Depois da visita ao mercado, voltamos à Pub Street e fomos conhecer mais a fundo os diversos bares e restaurantes que tem ali. Dos bares que nos agradavam, tomamos um chope em cada (sempre a 50 centavos de dólar a caneca), dos mais chiques aos mais furreca.

Curtindo mais uns chopes a 50 centavos de dólar


Fomos inclusive num restaurante italiano que fica numa rua transversal que tinha o banheiro mais bonito que eu já fui na minha vida.

Bar italiano (com a bandeira do Che Guevara) e o banheiro mais chique que eu já usei na vida


Ficamos até mais tarde esse dia e deu para acompanhar bem como vai mudando o "público" da região à medida que a madrugada avança. Mais gringos bêbados vão chegando e mais gente te oferecendo drogas também.

Juju remexendo o esqueleto

Não chegamos a ir em nenhuma "balada", que não é o nosso estilo, tomamos mais uns chopes (e o chope é bem leve, tem que tomar vários para se embebedar) e voltamos pro hostel, no outro dia partiríamos rumo à Hong Kong, a viagem começaria a ficar um "pouquinho" mais cara.

Se despedindo da noite cambojana

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