Dia de se despedir temporariamente da Tailândia rumo ao Camboja. Pelas ruas de Chiang Mai, diversas agências vendem a passagem de ônibus para a cidade de Siem Reap (no Camboja) bem baratinho, cerca de 15 horas de viagem, mas como havíamos lido que havia muita corrupção nessa fronteira por parte dos agentes da imigração, além de relatos de casos em que os próprios motoristas dos micro ônibus que fazem o trajeto quiseram cobrar umas taxas inventadas (leia-se: roubar) dos turistas sob a ameaça de te deixarem no meio do caminho, resolvemos pagar um pouquinho mais caro e ir de avião com a Air Asia (pouquinho mais caro pros padrões asiáticos, comparado a vôos aqui dentro do Brasil é muito mais barato).
Nosso vôo estava marcado para as 16 horas e o Aeroporto de Chiang Mai é relativamente perto do centro da cidade, mas como sou meio neurótico com horários e fiquei com trauma de uma vez que perdemos um vôo em São Paulo mesmo saindo com 4 horas de antecedência do hotel e tivemos que pagar 3 vezes o valor do vôo para remarcar, combinamos de sair do hostel lá pelas 13h.
Acordamos então sem pressa e ficamos de almoçar ali no hostel mesmo, antes de sair, deixando a manhã "livre". Chiang Mai oferece milhares de opções de coisas para se fazer e não é a toa que é considerada a cidade mais escolhida como residência temporária pelos chamados "Nômades Digitais" (aquele pessoal que trabalha remotamente pela internet). Além de ser uma cidade histórica, segura e barata, ainda possui natureza abundante, diversas atividades para se fazer (turismo de aventura, histórico, culinário, espiritual, religioso, sexual...), além de comida boa e povo alegre e hospitaleiro. Mas nos 4 dias que ficamos lá, deu para aproveitar bastante.
Durante o almoço ficamos observando o Patrick (dono do hostel) ensinando para um dos hóspedes como usar a Scooter que eles estavam alugando (aparentemente não precisa de carteira e nem saber dirigir lá para alugar uma) e depois perguntamos para Lynn como ir para o Aeroporto: ela disse que só de Songtaew mesmo e que o preço era 150 baths. Que iriam querer nos cobrar mais mas que não aceitássemos. Pegamos nossas mochilas, nos despedimos da Lynn e do Patrick e fomos para a avenida que contorna a muralha atacar algum Songtaew que estivesse passando na rua. Tivemos que parar uns três até achar um que fizesse a corrida pelos 150 baths (queriam nos cobrar 200) e chegamos no Aeroporto acho que em menos de 30 minutos.
Na hora do embarque, como seria a primeira vez que íamos pegar um vôo da Air Asia, estávamos um pouco apreensivos, por se tratar de uma companhia low-cost, se eles levavam fielmente em consideração as restrições de bagagem de mão, além da multa para quem não leva impresso o bilhete de embarque. Mas não, fizemos o check-in lá mesmo no guichê e nem olharam nossas mochilas, tudo bem tranquilo.
Depois de uma rápida conexão no Aeroporto Don Muenang em Bangkok, chegamos no simpático aeroporto de Siem Reap por volta das 21 horas. Como já havíamos feito nosso visto online (muito fácil de se fazer) já que era o mesmo preço caso tivéssemos feito na hora (o Visa On Arrival), passamos na frente de um monte de gente. O guardinha da imigração ainda, vendo que eramos brasileiros, soltou um "obrigado" em português, que eu demorei uns bons minutos para decifrar que era isso mesmo hehehe.
O hostel que havíamos reservado oferecia transfer gratuito do aeroporto, o que é excelente pois já era noite e transporte público em Siem Reap não existe, então quando saímos do desembarque lá estava um carinha nos esperando segurando uma plaquinha com nossos nomes. O carinha em questão, com uma cara de malandro, cabelo raspado, uns dentes de ouro, vestindo uma camisa falsificada grosseiramente (tipo as que vendem nos camelôs aqui de Porto Alegre) do Paris Saint Germain, era o Phey, um cambojano típico, tri gente boa, que acabaria se tornando o nosso motorista "oficial" durante nossa passagem pelo Camboja. Com um inglês entendível (às vezes), fomos conversando o caminho até o estacionamento. Ele perguntou de onde nós éramos e dava pra perceber claramente que ele não fazia ideia de onde ficava o Brasil. Phey veio nos buscar de Tuk-Tuk, e então tivemos a oportunidade de pegar um Tuk-Tuk pela primeira vez na viagem (e na vida).
No caminho o primeiro "choque" com a realidade deste país: ruas com iluminação pública praticamente inexistente, escuridão total (depois descobriríamos que toda a energia elétrica da cidade funciona por geradores), muitos animais na pista (vacas magérrimas), lixo amontoado por todos os cantos, aparentando ser uma região bastante pobre em questão de economia. Quando chegamos no centro, onde ficava nosso hostel, a situação melhorava um pouco no quesito iluminação, mas ainda com as ruas muito sujas. Dizem que a capital, Phnom Pehn é bastante desenvolvida e bem mais organizada que o resto do país, mas infelizmente não chegamos a visitá-la.
O hostel que escolhemos, o Cercle D´Angkor Villa, fica localizado numa rotatória bem no "centro" da cidade. Escolhemos ele pelo preço (5 dólares a diária), mas principalmente pela localização, praticamente na entrada da principal rua boêmia da cidade, a Pub Street, mas não "na" Pub Street (sendo assim mais tranquilo para dormir a noite), e também a uma quadra do Old Market (Psar Chas), o mercadão principal da cidade.
Chegando no hostel, o Phey perguntou se queríamos fazer algum passeio na cidade (Angkor Wat, obviamente) e deixamos marcado então para dali a dois dias ele nos levar para vermos o nascer do sol no Angkor Wat. Já havíamos pesquisado por cima, na internet, os preços que os motoristas de Tuk-Tuk cobravam para levar até lá e até conseguiríamos preços um pouco mais baratos pechinchando na rua, mas o dele estava na média e como ele se mostrou bem simpático fechamos com ele mesmo (também não estávamos com saco para ficar de motorista em motorista pela rua pechinchando), lembrando que não tem ônibus que leva até lá então a opção é tuk-tuk ou alugar uma scooter ou bicicleta.
A entrada do hostel fica na verdade num bequinho na rotatória e só conseguímos achar porque o Phey nos indicou. Fomos recebidos pelos dois guris da portaria (pelo menos só vimos os dois durante toda nossa estadia), ambos muito solícitos e educados, sempre que entrávamos ou saíamos do hostel eles adotavam uma posição de "sentido" e um sorrisão e nos davam bom dia, boa noite e perguntavam se estava tudo bem (até meio sinistro isso pra falar a verdade). O quarto, apesar de não ter janela, tinha ar condicionado e 4 camas enormes e bastante confortáveis. Largamos nossas coisas e empolgados de estar num novo país, já saímos para explorar a noite de Siem Reap.
Enquanto esperava a Juju na portaria, perguntei para um dos guris da portaria (já que como mencionado a cidade é bem suja, mal iluminada e aparenta ser bem pobre) se era seguro andar ali de noite. Ele ficou com uma cara de interrogação e me perguntou: "como assim seguro?". Expliquei então: segura no sentido de te assaltarem, um cara vir com uma arma e roubar teu celular. Ele então fez uma cara de espanto que eu nunca vou esquecer, do tipo: "como assim? Existe isso da onde tu vem?" Na hora bate uma depressão (e reflexão). Como um país que aparenta ser muito mais pobre que o Brasil não existe assalto? Para nós brasileiros essa já é uma questão tão naturalizada que achamos que é normal tu correr o risco de ser assaltado se andar por ruas escuras de zonas mais pobres. Nessas horas que tu vê que violência não tem a ver exclusivamente com pobreza, tem muito mais a ver com desigualdade social, com cultura, com as construções sociais de determinada região. Pois bem, mudei de assunto então para não acabar dando ideia para eles hehehe.
Seguímos então pela rua principal ali da região, a Sivutha Boulevard e, de cara já nos deparamos com uma das principais características de Siem Reap: o assédio incessante a turistas pelos locais. Eles começam oferecendo Tuk-Tuk (sério, tu sai na rua e ouve uns 40 gritando: Tuk Tuk!), depois oferecem comida, roupas, até que, por fim, oferecem prostitutas e drogas (até meta-anfetamina me ofereceram). É tipo, tu anda uma quadra e tem que falar umas 40 vezes "no thank you". No começo é insuportável, mas depois tu acostuma e nem percebe mais, até porque eles te oferecem as coisas e tu fala "não" eles já partem para outro, não ficam colados em ti, então é bem tranquilo.
Primeiras impressões da noite em Siem Reap
Outra característica da cidade é que não tem 7elevens, o que nos deixou um pouco tristes, mas tem outros similares como o Family Mart ou Circle K, que quebravam o galho. Mas nem por isso Sieam Reap deixa de ser uma cidade pacata, bem estilo interiorano bastante agradável para passear. Pegamos umas cervejas (muito boas) no Family Mart e seguimos.
O engraçado é que no Camboja, apesar de não ser a moeda oficial, o dólar é amplamente aceito, só que o troco é normalmente em Riel (a moeda oficial). 1 dólar equivale a 4.000 riels e às vezes para dar 0,25 dólares de troco nos davam 1.000 riels em nota de 100, ficávamos cheios da grana!
Seguimos então pela rua procurar um lugar para comer. No caminho o tempo todo cartazes e decorações representando o Angkor Wat, obviamente a principal atração da cidade (e do país) e o motivo dela ser tão turística.
Paramos então num trailer com comida chinesa/tailandesa para comer e, apesar de ainda não se tratar da culinária Khmer (que depois descobriríamos ser maravilhosa), comemos um yellow chicken noodles (massa amarela com frango) e um yakissoba muito bons, acompanhado de uma cerveja Cambodian. E o melhor, 1 dólar cada prato e 50 centavos de dólar a cerveja! O Camboja com certeza foi o país onde comemos a melhor comida durante nossa incursão pela Ásia. A cerveja também, principalmente o Chope, foram um dos melhores que tomamos também e com certeza o mais barato.
Apreciando a comida deliciosa do Camboja
Ficamos ali por um tempo depois de comer tomando uns chopes e curtindo o movimento até que perguntei pro mocinho que servia as mesas se tinha banheiro por ali. Ele prontamente disse que sim e me acompanhou para trás do trailer. Fomos caminhando num terreno baldio escuro cheio de mato até que chegamos atrás de um arbusto, ele riu e disse: "aqui é o banheiro, cambodian bathroom". Então tá né, ainda bem que não era o número 2 hehehehe.
Depois de mais uns chopes voltamos pro hostel. Como já mencionado, quando entravamos na porta, surgiam do nada os dois guris da recepção para nos dar boa noite e perguntar se estava tudo bem (bem sinistro).
Antes de dormir ainda conhecemos nossos companheiros de quarto, dois adolescentes: uma chinesa que estava meio que morando ali que era bem simpática e conversou um pouco com a gente e um outro guri que só ficava na dele e não dava nem oi. Ambos passavam o dia inteiro dentro do quarto (vai entender...).
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