Dia reservado para fazer o passeio para Playa Blanca. 9h já estávamos no píer do muelle de la bodeguita para pegar o nosso barco.
Dali saem diariamente dezenas de barcos para este passeio, que consiste de: na parte da manhã visita às ilhas rosario, e depois, parte-se para a Playa Blanca para almoço e curtir a praia até o final da tarde. Dizem que alguns barcos vão somente para Playa Blanca e outros somente para as ilhas rosario, mas não nos inteiramos sobre o assunto.
O Barco demora uns 40 minutos até as ilhas rosario. A primeira parte é bem tranquila, costeando Bocagrande, depois ele faz uma pequena parada em frente à "boca chica" para apreciar o Forte San Fernando, que fica na sua margem.
Iniciando o passeio, com os prédios de Bocagrande ao fundo
Bocagrande e Bocachica são duas penínsulas cuja formação geográfica acabam servindo de portas de entrada, ou "bocas", para o porto comercial de Cartagena. Como se percebe pelo nome, uma maior e outra menor. Eram também por onde adentravam os piratas e saqueadores na cidade. Primeiramente a entrada principal era por Bocagrande, mas após a construção da muralha e do Castelo de Barajas, os piratas encontraram outro caminho para invadir: a Bocachica. Diante disso, os espanhóis construíram o Forte de San Fernando, bem na entrada da Bocachica, fechando de vez a entrada de embarcações inimigas.
Passando Bocachica, o mar aberto com bastante vento torna o passeio mais "emocionante". O barco começa a dar umas "salteadas" no ar e tu começa a se molhar de forma considerável, o que no calor de Cartagena é ótimo!
Parte do passeio "com emoção"
Nessa parte também o mar já começa a ficar "da cor do caribe", aquele azul turquesa que tu não acredita de tão transparante e que estávamos tão ansiosos para vislumbrar.
Olha a cor dessa água!
Depois de dar uma pequena volta pelo arquipélago do Rosário, que é formado por 28 ilhas, grande parte de preservação ambiental e outras dominadas por resorts privados, o barco para na ilha onde fica o Oceanario do Rosário, e ali eles te dão duas opções: ou visitar o Oceanario, com entrada no valor de 18.000 CUP por pessoa à época, ou rumar para uma ilha ao lado fazer snorkel (dá pra atravessar pra essa ilha caminhando pelo mar, com água na cintura, fantástico). Como já iríamos fazer bastante snorkel em San Andrés e o Oceanario lá diziam ser um local de preservação ambiental importantíssimo para o arquipélago (não sei se é bem assim), responsável pela restauração dos corais da região e com muitas espécies animais para tu observar, optamos por dar essa ajuda para o Oceanario.
A visita ao Oceanario é meio "guiada", para que não fique uma bagunça lá dentro, visto que os barcos descem ali tudo no mesmo horário e chega a ficar bem lotado de turistas. Primeiro, na entrada, tem os tanques com vários corais e espécies ameaçadas, com destaque para as tartarugas, estrelas-do-mar e tubarões pequenos, dos mais variados tipos.
Tanque das tartarugas
Legal também é que em cima dos tanques fica cheio de pelicanos e outros passáros, loucos para ver se algum peixe dá uma bobeada e eles descolam um "lanchinho" hehehe.
Só de bico para ver se descolam um lanchinho
A parte de dentro também conta com a exposição de diversos corais, todos recuperados ali da região. O mais legal (e triste) é um aquário que mostra como os corais ficarão em poucos anos se o ser humano continuar a jogar lixo no oceano.
Corais presentes nas Islas del Rosario. Na última foto uma amostra da intervenção humana
Depois de dar uma boa olhada na parte interna, somos convidados a se deslocar para a parte que fica em mar aberto, onde ficam separados por cercas dentro do mar os peixes "grandes" como golfinhos, tubarões e diversos tipos de peixes.
Parte externa do oceanario
Logo em seguida daí, nesse local, começam as "apresentações", e aí tu começa a se questionar sobre as condições dos tratos dos animais ali e o quanto tem de "preservação" nesse Oceanário. Primeiro assistimos o show com golfinhos: eles fazendo piruetas e malabarismos. Eu gostei porque nunca tinha visto golfinhos na vida, mas claramente é uma exploração turística dos animais. Segundo a instrutora são golfinhos resgatados que estão ali para preservação, mas o apito que ela usava para comandar os bichinhos dizem ser extremamente estressante para eles e danoso para sua audição.
Show aquático dos golfinhos
Sem contar que depois do show a turistada faz fila pra tirar foto dando "beijinho" nos golfinhos, anestesiados pela manhã de apitadas na cabeça, um horror!
Turistada sem noção querendo tirar foto dando "beijinho" nos pobres dos bichinhos. Na foto debaixo a Juju tentando se comunicar.
Depois fomos encaminhados para a parte que ficam os tubarões grandes (ou como se diz em espanhol: tiburones). Muito bonitos, dizem ser todos resgatados da região para preservação, visto a importância que os tubarões tem para o ecossistema marinho. No Oceanario observamos várias espécies incluindo o temível tubarão martelo.
Mas o destaque é o tubarão "gato" (ou nodriza), um que fica paradinho no fundo do mar, parece que tá morto ou dormindo, só esperando pra dar o bote, mas dizem ser inofensivo e que só se alimenta de pequenos moluscos e crustáceos.
Tubarão "Gato"
Este é tão mansinho que, assim como os golfinhos, resolveram "adestrá-lo", e aí começa mais uma apresentação lá no Oceanario. A segunda apresentação do dia então, um instrutor vai alimentar os tubarões. Mas não é só jogar a comida pra eles não, ele chama os bichinhos para uma plataforma suspensa dentro do tanque e eles sobem em cima da plataforma para comer, ficando a centímetros do pé do instrutor, bem impressionante.
Mas quem rouba a cena é uma gaivota que fica ali comendo junto com eles, aparentemente sem perigo algum. Disse o instrutor que aquela gaivota já faz parte ali do Oceanario e até já virou amiga dos tubarões, hehehe.
Hora do lanche dos tubarões
Cada vez mais lotado de gente no Oceanario ao decorrer da manhã e como bem capaz que iriamos tirar foto com gofinhos, fomos embora e ficamos lá na frente esperando o barco para seguir viagem. Aproveitamos para já dar uma curtida no mar em frente à entrada para se refrescar um pouco, que com as formações de pedras acaba formando uma mini piscina natural.
Terminada a visita ao Oceanario, mais uns minutos e o barco já atraca na Playa Blanca e, varados de fome, já somos direcionados para o almoço incluído, num restaurante bem roots à beira da praia. Aliás, as instalações aqui são bem roots mesmo. Na beira da praia ficam vários restaurantes e pousadas de madeira, literalmente "pé-na areia", com opções de dormir em redes e tal, provavelmente com energia elétrica de gerador.
Todas as instalações na beira da praia são bem rústicas
Muitos turistas pagam o passeio mas não voltam no mesmo dia, ficando por lá em alguma pousada ou acampando de graça na beira da praia mesmo e voltam em outro dia se tiver lugar em algum barco (sempre tem). Acho que é o que vale mais a pena mesmo, visto que o lugar é super tranquilo (pelo menos era na época), bem roots mesmo, bom pra aproveitar fora dos horários que tem a infestação de turistas que vem pra passar o dia, com direito a fazer fogueira à noite e tudo mais (ficamos na vontade!).
A bonita Playa Blanca
No almoço finalmente experimentamos "patacones", comida típica dessa região da Colômbia que eles utilizam como acompanhamento em quase todos os pratos. Uma banana esmagada frita como se fosse uma batata frita, só que não é uma banana normal e sim as tal de patacones, uma banana enorme e dura, meio salgada e que só dá pra comer desse jeito mesmo. Esmagando e cozinhando. Muito bom, parece bata frita mesmo mas mais leve!
Outra coisa ruim de vir com passeio é o assédio de vendedores. Tu nem desce do barco direito e já vem uns 3 te achacar, querer alugar guarda-sol, cadeira, vender artesanato, comida, etc. Para fugir disso, depois do almoço seguimos para um canto da praia longe dos restaurantes, e demos sorte de achar um barzinho abandonado (ou fechado durante o dia) com uma cobertura de palha em frente onde pudemos estender nossa canga embaixo e nos abrigar do sol. Também conseguimos espantar os vendedores, acho que eles, vendo que nós não alugamos cadeira e nem guarda-sol e improvisamos um lugar pra se abrigar, viram que não ia ser fácil vender alguma coisa pra nós hehehe.
Cantinho que encontramos para nos abrigar do sol
Calor infernal que estava, rapidinho fomos então conferir as águas caribenhas transparentes de Playa Blanca e, para nossa frustração, assim como a praia de Bocagrande no dia anterior, a água era quente, arrisco dizer que com a temperatura maior do que fora dela. Impossível se "refrescar". Isso, somado ao fato de lembrarmos que quando chegássemos no hostel para tomar banho, a água do chuveiro também iria estar quente, começou a nos bater um certo desespero hehehe. O jeito então foi passar o resto da tarde se refrescando com umas Águilas, que nos barzinhos na beira da praia eram um pouco caros mas nada absurdo para uma praia do caribe, 3.000 CUPS a latinha.
Quando os barcos começaram então a chamar para voltar, guardamos nossas coisas e seguimos. Na volta dá pra entrar em qualquer barco, não necessariamente no que te trouxe, já que todos voltam para o Muelle de la Bodeguita do mesmo jeito.
Playa Blanca é bem bonita, mas virou uma praia muito popular com o tempo e hoje sofre com o turismo predatório, muito lixo, a água quase não é mais transparente e sem contar que é impossível ter 1 minuto de sossego sem alguém vir te oferecer alguma coisa. Para quem vem a Cartagena e vai dar um pulo em San Andrés (nosso caso), não vale a pena a visita, já que as praias em San Andrés são infinitamente mais bonitas. Vale sim pra quem vem passar a noite aqui, nas pousadas que ficam quase dentro d´água e aproveitando os horários sem turistas.
30 minutos depois já chegamos no píer e, finzinho da tarde e um pouco mais fresquinho o clima agora, aproveitamos para dar uma passeada por ali, dando uma conferida nos iates ostentação que ancoram por lá e apreciando a vista da muralha de outro ângulo.
Muelle de La Bodeguita
Encontramos também aqueles navios de pirata de passeios como os que tem em Camboriú, em Santa Catarina, mas não chegamos a ver como é e como funciona esse tipo de passeio por lá.
Antes de voltar pro hostel, fomos procurar uma agência para fechar o passeio do dia seguinte para o Vulcão Totumo, o que não é nada difícil. Como qualquer cidade mega turística, em todo canto tem uma agência ou alguém vendendo os passeios padrões. É aquele esquema de sempre que tanto faz qual tu escolher, todas tu tem que pechinchar o preço e no fim no outro dia elas se juntam todas e distribuem os passageiros aleatoriamente entre as empresas de transporte. Sendo assim, a primeira mais escondida que achamos, deixamos reservado o passeio com almoço incluído. Não lembro por qual valor exato, mas algo em torno de 80.000 CUP por pessoa.
Depois de tomar aquele banho quente com água a conta gotas no hostel, ficamos um tempo na sauna, digo, área comum do hostel, vendo videclipes de Reggaeton na TV e decidindo o que faríamos na noite. Não havia comentado ainda sobre o reggaeton na Colômbia. Lá é uma praga, para todo canto que tu olhasse tava tocando reggaeton em algum lugar. Se houvesse uma tv em alguma loja ou restaurante, estaria passando videoclipes de reggaeton: J Balvin, Ozuna, Nicky Jam, Daddy Yankee... na época ainda não faziam sucesso fora da América Latina. Na TV da área comum do hostel ficava o dia inteiro passando videoclipes de todos esses em looping, deu pra decorar várias músicas heheheh. Pra completar, era o ano de lançamento de "Despacito" que recém estava chegando no Brasil mas lá já era um sucesso consolidado. A cada 3 músicas que se ouvia tocando nas ruas, uma era Despacito. Em 2 dias na Colômbia já tínhamos decorado toda a letra só ouvindo a música pelas ruas.
Depois que o sol se pôs, decidimos então conhecer a noite no bairro Getsemani, considerada uma Lapa ou Cidade Baixa (pra quem é de Porto Alegre) de Cartagena.
Getsemani é um bairro que fica logo em frente à Ciudad Amurallada, saindo das muralhas pela torre do relógio. Durante os tempos da colônia era o bairro popular, onde ficava a população que não fazia parte da nobreza (mas também não era a "ralé" da época). Com a independência foi deixado meio de lado e acabou se transformando numa região bem perigosa da cidade, reduto de tráfico de drogas e prostituição. De uns tempos pra cá, no entanto, passa por um processo de "gentrificação". Muitos artistas de várias partes do mundo fincaram pé por ali, redecorando as ruas estreitas com grafites e obras de arte e abriu-se também vários restaurantes e bares. Ao mesmo tempo, ao contrário de quase 100% da cidade murada, ainda possui vários moradores antigos, então há um contraste bem legal entre os turistas e os locais. Hoje Getsemani ainda sofre o estigma de receber muita gente que vem pra fazer festa e beber e regularmente ocorrem batidas policiais para prender os "drogaditos". Mas é um bairro bastante seguro para vir a noite, como qualquer cidade grande, e com certeza o melhor e mais "democrático" da cidade.
Para se chegar lá a partir da torre do relógio, tem que se caminhar por uns 400 metros num trecho com ruas bem escuras e meio desertas, lugar que no Brasil com certeza não andaríamos à noite, mas aparentemente era tranquilo, óbvio que ficamos ligados nos arredores o trajeto todo.
O Bairro tem a rua principal, a Calle 30, que conta com os bares e baladas mais badalados, como o Café Havana, que dizem ser uma reprodução do bar homônimo de Cuba, muito procurado pela turistada e que só toca Salsa a noite toda. Mas é adentrando por suas ruelas coloniais, em direção sul, que está o charme de Getsemani. Muitos murais com grafites espetaculares, e muitos moradores que põem suas cadeiras de praia em frente a suas casas para se refrescar um pouco e acompanhar o movimento.
Bonitas ruas do bairro Getsemani
É seguindo pela Carrera 10 que se chega no "point" do Getsemani. Em frente à igreja Iglesia de la santissima trinidad, na praça homônima, é onde o o pessoal se reúne para curtir a noite, tomar uma cerveja comprada nos mercadinhos próximos e comer uma comida de rua das várias barraquinhas que tem ali. Fazendo um aquece para os bares ou ficando na noite por ali mesmo, visto que acontece por ali também várias apresentações de artistas de rua.
Plaza e Iglesia de la Santissima Trindade
Como local mais movimentado, os vendedores de rua por ali dão uma atochada nos preços, então tratamos de procurar algum mercadinho nas ruas adjacentes mais afastadas para comprar nossa cerveja, e achamos numa rua escura um mercado dos mais fuleiros vendendo long necks de Águila a dois reais. Compramos umas e ficamos ali pela praça curtindo o movimento das diversas tribos que perambulam por ali, dando uma interagida com alguns locais. Muito agradável o lugar ali.
Curtindo à noite no Getsemani
Foi por ali que descobrimos, pelo menos de escutar falar, da Champeta.
Discutindo com uns locais sobre como eles são viciados em Reggaetton por lá, nos disseram que na verdade o ritmo oficial de Cartagena é a Champeta, estilo que mistura ritmos caribenhos e africanos, influência do imenso fluxo de escravos que desembarcaram em Cartagena e que, conforme eles, a dança é tão frenética que em 5 minutos tu já fez exercícios para um dia inteiro. Fiquei imaginando tal tipo de dança naquele calor infernal...
Para fechar a noite, experimentamos nossa primeira Arepa, comida originária da Venezuela, mas muito comum na Colômbia também, uma tortilha meio que de farinha de mandioca, meio de milho que normalmente se come lá com queijo, mas essa barraquinha de rua que vimos vendia elas com vários recheios, estilo um cachorro quente. Muito bom (e barato), alimenta muito bem!
Arepas recheadas
Voltamos a pé pro hostel já tarde e, aparentemente àquela hora as ruas no caminho ficam mais movimentadas, então achamos bem tranquilos o trajeto de volta à cidade murada.
Nossa!
Gostei bastante das imagens das viagens, muito diferente e detalhado.