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Foto do escritorAriel Farias

COLÔMBIA 8º Dia - Visitando o Pueblito Paisa (01/05/2017)

Já que era um feriado esse dia (dia mundial do trabalhador), resolvemos visitar mais alguns parques famosos de Medellín, o Pueblito Paisa e o Parque de los Pies Descalzos. Como não havíamos encontrado nenhum mercadinho perto do hostel para comprar coisas para fazer um café da manhã, saímos então bem cedo para fazer o desjejum pela Carrera 70. Escolhemos a lanchonete/padaria que estava mais cheia, bem na esquina da Carrera 70 com a Avenida principal, que na vitrine tinha lanches que pareciam deliciosos. Com muita dificuldade, já que o atendimento era péssimo, a Juju conseguiu comer um omelete e um suco de laranja. Já eu, a atendente não entendeu (não fez esforço algum pra entender) meu portunhol e não consegui comer nada. Até ficamos nos questionando se de repente estrangeiros não são bem vindos em Medellín, mas acho que foi um caso isolado mesmo.

Seguimos então primeiro em direção ao Pueblito Paisa, pegando o metrô em direção à estação Industriales.

O Pueblito Paisa é uma atração turística das mais famosas de Medellín. Trata-se de uma réplica fiel de uma típica cidade Antioqueña (ou Paisa) do inicio do século passado, com uma praça central com uma fonte, envolta pelas casas de arquitetura típica e a igreja central.

O Pueblito Paisa fica no topo de uma pequena colina no centro da cidade de Medellín, o Cerro Nutibarra, que, junto com outras 6 colinas semelhantes que existem em outros pontos da cidade, formam o chamado grupo de "Sete colinas guardiãs", locais de Medellín com biodiversidade preservada. Além do Pueblito Paisa, o Cerro Nutibarra conta com um museu da cidade, exposição de esculturas e um teatro à céu aberto, além de ser um local com natureza abundante, muito utilizado pelos locais para trilhas, prática de mountain bike e piqueniques com a família.

Para chegar lá, descemos na estação Industriales e seguimos um pequeno trecho pela Calle 30A até o portão de entrada do Cerro, em um bairro que, assim como se percebe pelo nome da estação, conta exclusivamente com industrias e fábricas, a maioria abandonadas.

O Cerro Nutibarra é todo cercado por muros e grades, o que garante uma certa segurança para o local, e a entrada é somente neste portão, ou ao norte, na Calle 32D. Logo na entrada já se deparamos com as intermináveis escadarias que levam ao topo. Com bastante gente utilizando elas pra fazer o seu exercício físico.

Entrada do Cerro Nutibarra


Apesar do Cerro possuir apenas 80 metros de altura e os degraus não serem muito íngremes, dá pra dar uma boa cansada. Subimos num ritmo normal, mas mesmo assim chegamos ao topo mortos, parecia que não chegava nunca! No caminho no entanto, a bonita paisagem com bastante verde e ar puro, davam uma "ajudada" na motivação. Para quem não curte muito caminhar, dá pra subir de carro também por uma estradinha que vai contornando o morro.

Juju subindo as escadarias "cheia de energia"


Chegando ao topo, lá estava o Pueblito Paisa, a simpática réplica de vila Paisa do início do século.

Pueblito Paisa

Logo na entrada, antes de chegar ao Pueblito propriamente dito, o prédio da administração do parque e os banheiros, já são todos com arquitetura da época. Também ali ficam umas hortas e um jardim botânico com plantas da região muito bem cuidadas e organizadas.

Entrada do Pueblito


O Pueblito em si, este parece aqueles cenários cenográficos de novelas hehehe, mas muito bem conservado e bastante original. Trata-se de várias casinhas que hoje se transformaram em lojinhas de souvenires turísticos, em volta de uma praça com uma bonita fonte desativada no meio, que por sua vez também ficam algumas banquinhas vendendo sorvetes, sucos e mais souvenires.

Parece uma cidade cenográfica


Apesar de mega turístico, os preços das banquinhas e lojinhas não eram exorbitantes, e deu pra comprar umas lembrancinhas pra trazer pro Brasil, naquele esquema de pechinchar sempre. Ao fundo fica também uma pequena igreja, muito bonitinha e uma espécie de museu, na verdade uma réplica de uma casa por dentro, que pode-se entrar e visualizar como era uma típica casa Paisa do século retrasado, com um jardim de inverno ao centro e vários objetos de época, além de um quartinho para os servos (escravos certamente), que parecia uma pequena prisão.

Típica casa Paisa por dentro. Na foto à esquerda, um visitante ilustre


Depois de dar uma boa conferida no Pueblito e fazer umas comprinhas e uns lanches, seguimos em direção à outra atração do Cerro Nutibarra que fica bem em frente, o museu da cidade de Medellín. Este museu conta a história da cidade, exaltando as políticas públicas positivas que foram implementadas ao longo dos anos e a fauna e flora da região, bem ao estilo e muito parecido com o museu que visitamos em Kuala Lumpur, cujo relato você pode conferir aqui.

Museu da cidade de Medellín

Inclusive, de forma semelhante à Kuala Lumpur, no centro do museu de Medellín fica uma maquete enorme e muito bem feita da cidade, contendo a indicação e descrição dos bairros com leds indicando pontos estratégicos da cidade e principais trajetos do transporte público.

Maquete da cidade de Medellín


Mas como não poderia deixar de ser, o carro chefe do museu são as ações que fizeram Medellín ser escolhida a cidade mais inovadora do mundo em 2013. Ao longo do salão principal, ficam vários painéis com infográficos e fotos exemplificando tais ações, como os investimentos em esporte, lazer e cultura, estes últimos realizados através da criação e reforma de praças e parques com temas educativos e lúdicos que incentivam a ocupação de espaços que antes eram subutilizados ou utilizados para o uso de drogas e violência, pela população e suas famílias.

Espaços revitalizados de Medellín


Isso tudo somado à mobilidade urbana, é claro, exemplo na América do Sul, que facilita ao cidadão dos mais variados bairros usufruir da sua cidade através da integração de metrôs, ônibus, bicicletas, escadas rolantes urbanas, teleféricos e trens elétricos de calçada (coisa básica mas que no Brasil é ainda vista como mercadoria e privilégio tu poder ter dinheiro para pegar um ônibus para acessar regiões da tua própria cidade!).

Painéis demonstrativos da mobilidade urbana de Medellín


Claro que Medellín está longe de ser perfeita ou ser considerada uma cidade "desenvolvida", possuindo todos os problemas de uma cidade grande da América Latina. Mas o que choca e acredito que foi o motivo que rendeu mesmo este prêmio para Medellín foi o fato dela já ter sido considerada a cidade mais violenta do mundo nos anos 1980-1990, sob o domínio de Pablo Escobar e hoje ter alcançado tal nível de desenvolvimento urbano e social. Além de todas as iniciativas já elencadas, que contribuem para a ocupação da cidade de forma lúdica e educativa por sua população, o que obviamente contribui para a diminuição da violência urbana, foram criados também centros culturais em diversas favelas e comunidades de Medellín como política de inclusão social, proporcionando atividades culturais e esportivas gratuitas principalmente às crianças destas comunidades.

Políticas de inclusão de Medellín. Na foto à esquerda, percebe-se o nível de infraestrutura dos centros culturais criados nas favelas


Junto a tudo isso existe também um investimento maciço em segurança pública, acompanhado de várias operações controversas de "pacificação" em favelas na periferia da cidade, nos mesmos moldes que se observou aqui no Rio de Janeiro na época das UPPs. Um dos exemplos mais emblemáticos é a Comuna 13, uma das favelas mais perigosas da Colômbia e que hoje virou atração turística contendo a maior escada rolante urbana da América Latina, mas cuja "pacificação" envolveu assassinatos e desapropriações arbitrárias em massa, além de diversos desaparecimentos, fazendo emergir uma milícia que dizem que controla hoje a região com bastante violência. Apesar disso, o passeio até a Comuna 13 é bastante procurado. Além da lindíssima vista e da oportunidade de conhecer a escada rolante, a comunidade é bem receptiva com turistas e as construções contam com diversos grafites muito bonitos. Infelizmente não conseguimos visitar devido a nosso pouco tempo na cidade.

E você deve estar se perguntando: E o Pablo Escobar? O museu da cidade não fala dele não? Pois é, na contramão das inúmeras tentativas hollywoodianas que temos observado de glamourização deste personagem, para os habitantes de Medellín foi um período trágico e uma mácula que até hoje eles estão tentando apagar.

Tirando a população de certas comunidades que foram beneficiadas pelo cartel, chegar para um morador de Medellín e falar algo como: "conheço sua cidade! Tem o Pablo Escobar", mais do que uma ofensa gera uma mágoa muito grande.

Para eles Escobar foi pior que Hitler e, infelizmente, com a fama que os filmes e seriados que tem-se produzido trouxeram para ele, muitos turistas ainda vão pra lá fazer "tour do Pablo Escobar", compram camisetas do Pablo Escobar, etc.

Nem preciso comentar o quanto ficamos arrasados ao sair do museu, pelo fato de que o que se observa nas políticas públicas brasileiras para as cidades nos últimos anos, onde impera a mentalidade de que para combater a violência tem que se matar bandidos (só os pobres, pretos e favelados no caso), um país com muito mais recursos financeiros para implementação de políticas sociais em comparação com a Colômbia, é justamente o contrário do que ocorreu aqui (e isso que na época ainda não tínhamos um governo fascista no poder). Inveja pura! Hehehehe, embora, pelo que tem-se observado nos últimos anos, a Colômbia tem seguido também um caminho semelhante ao brasileiro.

Voltando ao nosso passeio, saindo do museu, na parte "detrás" dele, fica um mirante onde pode-se contemplar uma bonita vista panorâmica da cidade. Dali também dá pra observar bem pertinho o antigo aeroporto da cidade, que ainda opera alguns poucos vôos pequenos intermunicipais.

Mirante do Cerro Nutibarra


Se aproximando da hora do almoço, fomos conferir a praça de alimentação que tem ao lado do Pubelito Paisa. Para nossa surpresa (surpresa boa!), que achávamos que por ser um lugar turístico seria uma praça de alimentação tipo de shopping, esta conta com barraquinhas bem humildes, bem estilo comida de rua mesmo. O preço também, apesar de um pouquinho mais caro que os padrões colombianos, para os padrões brasileiros, bem barato. Aproveitamos então para experimentar uma Bandeja Paisa agora feita na Antioquia mesmo! Muito bom e bem servida como sempre. Pedimos uma só pra nós dois ao valor de 15.000 COPs (o equivalente a 15 reais na época).

Bandeija Paisa, agora feita realmente na Antioquia!


Depois do almoço, começamos então nossa volta rumo à estação de metrô. Para descer, fomos pelo caminho oposto ao do das escadarias, costeando o Cerro por umas trilhas em meio às árvores.

Trilhas em meio ao Cerro Nutibarra


No caminho, várias famílias e casais fazendo trilhas e piqueniques no meio da "floresta", além de muitos corredores e uma galera fazendo mountain bike. No caminho também, em vários locais espalhados pelo bosque ficam a exposição de esculturas, bem estilo a bienal. Esculturas com temas bem interessantes, mas quase todas vandalizadas e bem mal cuidadas.

Exposição de esculturas no meio das trilhas


Da estação Industriales então, seguimos de metrô até duas paradas ao norte, na estação Alpujarra, rumo à próxima atração do dia, o Parque de los Piés Descalzos:

O Parque de los Piés Descalzos é um parque que foi construído entre os anos 1998 e 2000 e, para nossa decepção, não tem nada haver com a música da Shakira, mas, como indica o nome, construído numa parte bem central e movimentada da cidade, é um local que estimula o cidadão a tirar os seus sapatos e entrar em contato direto com a natureza, dando uma pausa na correria do dia-a-dia experimentando várias sensações com os pés descalços (areia, grama, diversos tipos de piso e córregos de água limpos).

Junto deste parque ficam locais importantes da cidade como o Museu da água, a Praça Maior e o Teatro Metropolitano, todos que também merecem a visita.

O parque fica a uma caminhadinha de 1 quilometro da estação Alpujarra. Numa zona bem "centrão". Como era feriado, a região estava bem vazia e dava um certo medo (somos brasileiros né), mas o policiamento ostensivo na rua nos tranquilizou um pouco. Para chegar se atravessa uma ponte para pedestres bem bonita (tipo uma passarela), novinha, com vista para a bonita igreja do sagrado coração de jesus e o interessante prédio da estação de TV Teleantioquia.

Passarela para chegar ao Parque de Los Pies Descalzos. Ao fundo a igreja do sagrado coração de jesus e o prédio da Teleantioquia


Chegando no parque, bem na entrada já fica um paredão com uma cachoeira artificial e em frente uma espécie de praia artificial muito bonita, que não faz ainda parte do parque propriamente dito, mas ali o pessoal, principalmente a criançada, já aproveita para tirar os sapatos e enfiar o pé na água e se banhar na cachoeira enquanto os pais ficam nos barzinhos ao lado. Claro que, apesar de ser o único adulto, entrei no clima.

Dando uma refrescada


Já o parque em si, esse é muito bonito e limpo. Aos mesmos moldes do Parque de Los Deseos, conta com várias atividades educativas e lúdicas para adultos e crianças. Inclusive, assim como no parque de los Deseos, conta também com voluntários credenciados que te acompanham nas diversas atividades disponíveis no local e dão explicações ligando as atividades aos elementos da natureza.

Parque de los Piés Descalzos


Você não é obrigado a tirar os sapatos para ficar por ali, mas com certeza a experiência vale a pena, a ideia é muito bem bolada e muito relaxante e proveitosa após um dia de caminhadas ou um dia cheio no trabalho. O terreno permite experimentar várias sensações diferentes, areia, grama, uns "tocos" de diferentes formatos que você pode caminhar em cima e sentir diferentes terrenos e uns laguinhos ao redor que você pode molhar os pés. Inclusive ao lado do banco de areia tem uma pequena "floresta" onde você pode fazer umas trilhas de pé descalço (fingir pelo menos) além de contar com bancos e mesas pra fazer piqueniques. A Juju não quis encarar botar o chulé pra fora, mas eu logo de cara entrei no espírito.

De Piés Descalzos y de Sueños Blancos


Mas a parte mais divertida fica no centro do parque, local onde fica os Puntos de Encuentros para a galera se encontrar e onde ficam uns chafarizes que disparam água de forma aleatória de tempos em tempos e a gurizada faz a festa, um monte de crianças com toalhas, chinelos e roupas de banho, parecia praia! Ali também, na rua em frente, foi onde sentimos pela primeira vez o que é o tal do "investimento pesado" em segurança pública de Medellín, acho que o local que mais vimos policiais na vida (pelo menos os veículos da polícia)

Chafarizes onde a garotada faz a feta (reparem na quantidade de viaturas da polícia na foto de baixo)


Aliás, dizem que a questão da política publica de segurança implantada em Medellín foi também direcionada ao controle de pequenos delitos, como punir quem joga lixo na rua, quem pichar e vandalizar locais públicos, etc. Houve uma grande campanha de conscientização e fiscalização neste sentido e, realmente, pelo menos nos locais revitalizados, praças e parques por onde passamos, tudo é muito limpo e bem cuidado.

Por ali também, como todo parque que se preze, tem também muitas barraquinhas de comida de rua, igualmente com comidas bastante variadas e diversas opções para todos os gostos, com destaque para as barraquinhas de frutas cortadinhas no copo, uma delícia (e saudável)! Inclusive na parte coberta onde fica o Museu da Água também tem uma praça de alimentação com algumas lanchonetes, mas aí mais estilo shopping mesmo.

Barraquinhas de rua em volta do parque


Quase no fim da tarde então, fomos rumando de volta para a estação, pegar o metrô para retornar para o nosso hostel.

No dia anterior, havíamos visto que uma estação de metrô antes da nossa havia bem em frente um supermercado grande, então, descemos do trem uma parada antes, na estação Suramericana, para ir no mercado comprar comida pra janta e café-da-manhã. Em frente à estação Suramericana fica o Hiper mercado Jumbo, um supermercado gigantesco, estilo shopping, com várias lojas e praça de alimentação em volta, e, na época contava até com um pequeno parque de diversões (ou era um circo?) numa parte do estacionamento.

As famosas Patacones Colombianas


Na volta pro hostel, o único problema (e acho que a única coisa que pode-se falar mal da localização do hostel) é que o supermercado fica a um pouco mais de 1 quilômetro, o que, apesar de pouca distância, carregando compras e já cansados de caminhar o dia todo, é uma distância bem considerável.

Chegando no hostel, feriado e sem muitas opções para se fazer à noite, fomos conferir o bar do hostel. Neste dia tinha um pessoal bem legal por lá, jogando Pong Beer, todos gringos, curtindo na boa, sem fazer esparro e nem com nenhum bêbado chato. Assim, ficamos por ali mesmo, jogando Jenga, aproveitando as promoções de cerveja do happy hour no bar e brincando com o cachorrinho Rhu.

Curtindo a noite no bar do hostel

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