E chegou o dia de se despedirmos de Cape Town e iniciarmos a Garden Route, a rota de carro mais famosa da África do Sul.
Para quem não conhece, a Garden Route (Rota Jardim em português) é uma rota que se faz de carro que oficialmente começa (ou termina) em Mossel Bay, cidade que fica a 385 quilômetros da Cidade do Cabo e vai até Port Elizabeth, num trecho de 370 quilômetros. Porém na prática, e o que a maioria dos turistas faz, é partir ou chegar de Cape Town e se estender até Port Elizabeth, com alguns se aventurando até Durban, mais ao leste da África do Sul, totalizando assim mais de 1.600 quilômetros de estrada.
No caminho que vai costeando o oceano Índico, paisagens belíssimas, parques, safaris, visualização de baleias na costa, milhões de atividades turísticas, trilhas e cidades encantadoras para se parar no caminho e aproveitar. Inclusive boa parte da região faz parte do parque nacional da Garden Route, parque também administrado pela SANParks. E eu digo que a rota é feita de carro porque não existem ônibus públicos que fazem este trajeto de forma regular e que vá parando nas cidades pelo caminho. A maioria das linhas de ônibus ou vans que vão de uma cidade a outra não possuem horários definidos, algumas cidades eles não passam, enfim, até dá pra ir de ônibus, mas é bem complicado. Existe também a opção de fazer a Garden Route com o Baz Bus, uma empresa de ônibus conveniada com diversos hostels pelo caminho que se vende como o transporte oficial para os mochileiros da Garden Route. Só que para poder usar esse ônibus, pelo menos na época, tinha que ser reservados os hostels já com antecedência, somente os conveniados com o Baz Bus (mais caros) e aí já tinha que deixar definido todos os trajetos e horários que o ônibus passaria para te pegar nas acomodações (somente nas previamente reservadas). Tudo isso por um precinho nada camarada. Na época estava custando em torno de R$ 1.000 reais por pessoa todo o trajeto. Para se ter uma ideia, reservamos o carro por 6 dias para nós dois por 275 reais. Mesmo tendo que pagar mais um valorzinho depois (por motivos que vocês saberão depois), ainda assim não valeria nem um pouco a pena utilizar esse Baz Bus. Carona também é uma forma de transporte bastante utilizada na rota, mas por lá a carona mais comum é a do tipo "paga". O pessoal para pegar carona no caminho fica fazendo sinal para os carros segurando notas de Rands indicando quanto irão pagar pela carona. No começo achávamos bem estranho aquele pessoal na beira da estrada balançando notas de dinheiro para os carros.
Pela manhã então, partimos até a locadora de carros Avis, retirar o carro que havíamos já previamente alugado pela rentalcars.com site no qual já fiz propaganda aqui no blog. De tantas atrações e cidades para se passar no trajeto, a Garden Route necessita tempo e planejamento. Nosso planejamento para fazer a rota foi pesquisar as cidades e atrações que mais nos chamaram a atenção e tentar encaixá-las nos 7 dias que reservamos para fazer a rota. Já aviso de antemão que no nosso ritmo, os 7 dias não foram suficientes para aproveitar as cidades pelo caminho do jeito que queríamos, mas deu pra ter uma boa noção de toda a rota, durante os relatos vocês saberão mais. Na locadora, novamente uma certa dificuldade para compreender o inglês dos atendentes. Pela barateza que ficou o aluguel, tentei contratar lá na hora o seguro total do carro, aquele que caso o carro fosse roubado ou destruído não precisaríamos pagar nada a mais por isso, mas no fim o atendente não me entendeu e eu não entendi ele e acabamos ficando sem o seguro mesmo (o que nos deu um prejuízo no final).
Partimos então com nosso Kia 1.0, carrinho bem bom, ainda melhor que o que havíamos alugado no início da viagem para ir até o Kruger Park. Neste primeiro dia de rota, a ideia era visitar o Cabo da Boa Esperança, passando pela Chapman´s Peak Drive, considerada a estrada mais bonita do mundo, depois visitar a colônia de pinguins de Boulder´s Beach e passar a noite na cidade de Hermanus. E a primeira dica que eu dou é: não façam isso! Da ponta do Cabo da Boa Esperança até Hermanus são 160 quilômetros. Parece pouco, mas acontece que a reserva natural do Cabo da Boa Esperança é um passeio de dia inteiro, o que fez com que fossemos chegar em Hermanus já tarde da noite e podre de cansados. O melhor mesmo é visitar o Cabo da Boa Esperança enquanto ainda se está na Cidade do Cabo num bate e volta, ou então no máximo depois do Cabo pernoitar em Simon´s Town, que é onde fica a colônia de pinguins ou Muizenberg, praia famosa pelas charmosas casinhas coloridas na beira da praia que você já deve ter visto no instagram de alguém, que também fica pertinho do Cabo da Boa Esperança.
Mas voltando ao passeio, para passar pela Chapman´s Peak Drive, atravessamos a Kloof Nek Road, rua que leva à Table Moutain, em direção à Camps Bay Road. Quando entramos no bairro Camps Bay mesmo, na parte "de dentro" (não na orla), conhecemos o bairro mais ostentação que já visitamos na vida. Mansões enormes, carrões com detalhes em ouro, uma chiqueza só. Dizem que esta região é a que mais concentra bilionários da África do Sul. Chegando na beira da praia, pudemos curtir mais uma vez a baía de Camps Bay numa estrada muito bonita que vai em direção aos 12 apóstolos.
Chapman´s Peak Drive
Vinte quilômetros depois chegamos à rodovia Chapman´s Peak Drive ou "Chappies" como carinhosamente apelidada pelos locais. Esta rodovia leva esse nome pois fica aos pés de uma montanha de mesmo nome, nomeada em homenagem à John Chapman, marinheiro inglês comandante de um dos primeiros navios que atracaram por lá, e a partir desta parte do Cabo, muitos nomes em homenagens a marinheiros colonialistas europeus.
Além de ser caminho para o Cabo da Boa Esperança, ela é por si só uma atração turística, que merece ser visitada. Inclusive já foi eleita a estrada a beira mar mais espetacular do mundo.
Por conta disso e com a desculpa de manter a estrada sempre bonita para os turistas, ela conta com um pedágio exclusivo de, na época, 47 Rands, que funciona meio que como um portão de entrada para a rodovia. Além da estrada em si, que por sinal é de um asfalto espetacular (como todas que passamos na África do Sul), há algumas trilhas que podem ser feitas a pé subindo o Chapman´s Peak levando de uma ponta a outra do trajeto.
Ela inicia no porto de pesca conhecido como Hout Bay, baía em formato de "U" muito bonito e termina no bairro de Noordhoek, com vistas para diversas praias entre elas a Long Beach, mais ao sul, num trajeto que em velocidade normal seria de 20 minutos mas, devido à paisagem exuberante que faz com que a viagem de carro seja beeeem devagar, demora muito mais.
Belíssimas paisagens no caminho
Durante o caminho, onde de um lado temos um paredão rochoso muito bonito e do outro um mar de cor azul cristalino de tirar o fôlego, diversos paradouros com bancos que permitem apreciar a vista, com destaque para o "Lookout Point on Chapman´s Peak Road", onde se tem uma vista privilegiada da baía de Hout Bay e dizem que em algumas épocas do ano pode se observar inclusive golfinhos e baleias.
Várias paradinhas no caminho para apreciar o visual
Chama a atenção também que algumas partes da rodovia ficam "dentro" da montanha rochosa, em partes escavadas e apoiadas por postes, o que dá até um certo medo de se passar embaixo.
Passagem literalmente "dentro da rocha"
9 km depois já chegamos na região rural de Noordhoek, com mais vistas bonitas, agora para a praia de Long Beach.
Boulders Beach
Do fim da Chapman´s Peak até a entrada do Cabo da Boa Esperança são mais 30 quilômetros (falei que não era perto), mas resolvemos ir antes na Boulders Beach, a colônia de pinguins do Cabo, o que não foi uma decisão muito acertada, já que poderíamos ter passado em Boulders depois do parque, poupando assim alguns bons quilômetros no trajeto.
Em Boulders Beach, bem no comecinho da baía, na primeira praia (de quem vem de Cape Town, ou seja, do norte), chamada de Seaforth Beach, há um estacionamento gratuito, onde deixamos o carro. Ali em frente ao estacionamento já é um lugar super agradável com restaurantes, bares, várias banquinhas com pessoal vendendo artesanato e um gramadão onde várias famílias estavam fazendo seu piquenique e seu braai, apreciando a vista para a Seaforth Beach.
Seaforth Beach
Para quem quer ver pinguins mas não quer pagar para entrar em Boulders, ali na beira já dá pra interagir com alguns pinguins "fugitivos" da colônia. Mas vale muito a pena pagar os na época 70 Rands para entrar na praia Boulders e aí sim, imergir na colônia de pinguins (lemos em algum lugar que tem como entrar em boulders por uma trilha sem ser a entrada principal de forma gratuita, mas não achamos onde era). Para chegar na entrada da praia, segue-se um curto trecho pela Kleintuin Road em direção leste, bem fácil de achar com montes de placas indicativas.
Mas afinal o que é essa tal de Boulders Beach?
Dizem que em 1982, um casal de pinguins africanos aportou na praia de Boulders. Visto que esta praia trata-se de uma baía bem fechada, protegida por pedras e vegetação, que espantam tanto ondas quanto predadores, ali se instalaram e rapidamente a população de pinguins se alastrou, chegando a 2.000 habitantes na praia. Infelizmente, hoje os pinguins africanos estão entre as espécies de animais ameaçadas de extinção, portanto, anos mais tarde a praia foi fechada para preservação dos bichinhos, passando a ser administrada pela SAN Parks e instalando-se lá um centro de estudos e preservação ambiental.
A colônia trata-se de duas praias na verdade: a Foxy Beach, cuja entrada se dá no centro de visitantes e só pode-se avistar os bichinhos de uma passarela, e a Boulders propriamente dita, mais a direita, onde pode-se inclusive entrar no mar e ficar lado a lado com os pinguins. Ambas só são acessíveis com a compra do ingresso, porém somente 1 ingresso já serve para entrar nas duas.
Fomos primeiro na Foxy Beach. Essa praia é onde ficam os ninhos e é como se fosse a "casa" dos pinguins propriamente dita. Portanto, não é permitida a entrada nela. Apenas pode-se observar os bichinhos de duas passarelas de madeira, embora volta e meia apareça algum pinguim perdido andando pela passarela (inclusive há placas avisando que os pinguins mordem!).
Os blogs que lemos davam dicas de ir na segunda passarela pois tinha menos turistas, mas fomos nas duas e ambas estavam cheias de gente e ambas merecem ser visitadas pois permitem visuais diferentes da colônia.
Foxy Beach
Confesso que não levava fé que iriamos ver muitos pinguins, mas quando chegamos na ponta da passarela, nossa! São muitos (e muito bonitinhos), muito impressionante. E para variar, aquele vento gelado cortante nos acompanhou junto no passeio.
Muitos pinguins!
Estávamos sentindo também um cheiro muito forte e não sabíamos o porquê. Depois, dando uma passada no centro de visitantes que vale muito a pena pois tem muitas informações sobre os pinguins e as espécies que habitam ali, descobrimos que eles estavam bem na época de mudança de penas, e que durante esse período eles podiam ficar até seis meses sem tomar banho (eca)!
Centro de visitantes possui bastante informações legais sobre os pinguins
Dali seguimos para a Boulders Beach. Para chegar lá atravessa-se uma outra passarela de madeira muito bonita em meio à vegetação fechada, meio que um mangue junto à praia, onde também de vez em quando se avistava algum pinguim perdido.
Passarela que liga Foxy Beach e Boulders Beach e um pinguinzinho perdido no meio da vegetação
Também dizem que de vez em quando aparecem babuínos por ali, mas não avistamos nenhum, só vimos (além dos pinguins) uns Dassies que acho que devem ter vindo lá da Table Mountain hehehe.
Quando chegamos na Boulders Beach, tem de se mostrar novamente o ingresso e passar numa catraca. E quando avistamos a praia, nossa! Que espetáculo!
Boulders Beach
Nessa praia a entrada é permitida, podendo se andar lado a lado com os pinguins e inclusive pode se tomar banho de mar ali, já que a água é praticamente uma piscina, com zero de ondas e de uma cor turquesa fenomenal. Mas, como esperado, gelada pra burro! Somado à catinga dos pinguins trocando de pele, não nos encorajamos a dar um mergulho ali, só tiramos os tênis para sentir o pé na areia e a água salgada. É uma daquelas praias ótimas para só colocar a canga na areia e curtir!
Curtindo um pé na areia em Boulders Beach
Mas o que nós queríamos mesmo era "se enturmar" com os frequentadores, cuidando sempre para não incomodar os bichinhos e também para não levar uma mordida hehehe, mas eles pelo visto estão mais do que acostumados com humanos por ali.
Se enturmando (notem na segunda foto um dos pinguins que estava trocando de pele, parece todo descabelado hehehe)
Depois de curtir bastante os pinguins, nos despedimos dos nossos amiguinhos e seguimos então em direção ao Cabo da Boa Esperança.
Cabo da Boa Esperança
Mais 10 quilômetros em direção sul, costeando a False Bay, chegamos no portão de entrada do Cabo da Boa Esperança, literalmente no meio do nada (mas com um asfalto espetacular). Pagamos na época 135 Rands a entrada.
A reserva natural do Cabo da Boa Esperança, conhecida como Cape Point, faz parte e é o ponto final do Parque Nacional da Table Mountain. Além de um lugar com uma natureza exuberante com vegetação, falésias e praias numa área de 77 quilômetros quadrados, possui um valor histórico inestimável. Praticamente foi aí nesta ponta que se iniciou a história de colonização da África do Sul.
O primeiro a avistar o Cabo foi o navegador português Bartolomeu Dias em 1488, contornando o continente africano em direção às índias com seu navio. Inclusive, o primeiro nome dado pelos europeus à região foi em português mesmo. Primeiramente, nomeado de Cabo das Tormentas, devido aos fortes ventos que ocorrem na península (nós que sabemos!) mas que depois, o Rei de Portugal à época, Dom João II, rebatizou-o de Cabo da Boa Esperança, pois via com a descoberta do Cabo que a tão desejada colonização das índias se concretizaria.
Anos depois instalou-se ali a Companhia Holandesas das Índias Orientais, servindo de ponto de parada para reabastecimento dos navios europeus que seguiam em direção ao oriente, o resto da história vocês já sabem...
Durante o passeio de carro pelo parque, apreciamos uma vegetação e formações rochosas únicas que nunca tínhamos visto em lugar nenhum, bem parecido com o bioma da Table Mountain (não é à toa eles tratam como se fosse um parque só), porém com muito mais variedades botânicas. Como já comentado anteriormente, o Cabo possui muitas plantas endêmicas, ou seja, só indo lá para ver. O destaque é claro, fica com as belíssimas flores Proteas. Dizem que a reserva conta com mais de 1000 espécies de plantas e 500 tipos diferentes de pássaros.
Paisagem única
Por toda a extensão do parque, diversas trilhas ou estradinhas secundárias, levam até belíssimas falésias e praias desertas que são verdadeiros paraísos quase intocados.
O parque conta com diversas praias "escondidas"
Além das belíssimas paisagens, diversos animais habitam o Cabo e transitam livremente por lá. Inclusive deve-se tomar bastante cuidado na estrada para não acabar atropelando algum. O que vimos primeiro que é bem típico do sul da África do Sul e que veríamos muitos mais mais adiante na nossa viagem foram os avestruzes. Uns até com toda a família de filhotes!
Avestruzes!
Mas o mais "famoso por lá" e que inclusive há vários cartazes para se tomar cuidado são os temidos babuínos. Por sorte vimos uns somente na estrada mesmo, mas passamos longe.
Os "temíveis" babuínos
Voltando a parte histórica do Cabo da Boa Esperança, seguindo em direção à ponta do Cabo, o governo português erigiu dois monumentos em homenagem aos dois primeiros navegadores europeus que se aventuraram na região: Bartolomeu Dias, o "descobridor" do lugar e o nosso conhecido Vasco da Gama, que é reconhecido como o primeiro navegador que "dobrou" o Cabo, ou seja, diferente de Bartolomeu Dias que só foi até lá, Vasco da Gama contornou todo o Cabo e seguiu viagem rumo ao oriente, em 1497. Os monumentos simulam faróis de navegação com a cruz portuguesa no topo. Não chegamos a encontrar a de Bartolomeu Dias, somente a do Vasco da Gama.
Monumento em homenagem à Vasco da Gama e a Juju vendo se avistava algum navio chegando
No extremo sul do parque, ficam duas pontas, uma voltada para False Bay e a outra voltada para o Oceano Atlântico. Na ponta voltada para False Bay fica, em cima de uma colina bem alta, um farol que data de 1860 mas que hoje está desativado, sendo somente mantido como atração turística. Para subir até lá pode-se pegar um funicular (pago à parte) ou subir a pé uns 20 minutos numa subidinha sofrida por escadarias.
Farol do Cabo da Boa Esperança e uma placa indicando que estávamos no ponto mais ao sul da península do Cabo
Não queria pagar para usar o funicular então encarei a subida a pé. A Juju não aguentou e ficou pelo meio do caminho e acabou perdendo uma vista espetacular!
No topo do farol
Lá em cima o espaço é bem pequeno e fica bem muvucado, cheio de turistas se acotovelando para conseguir chegar nas beiradas e tirar fotos. Mas dá pra apreciar bastante a vista. Na ponta voltada para o sul o mar é de um azul impressionante, se misturando com o céu no horizonte a perder de vista, simplesmente sensacional! Só não deu pra ficar muito tempo por causa do vento, que estava daquele jeito.
E tem gente que ainda acha que a terra é plana...
Já na outra ponta, voltada para o oceano atlântico, que fomos em seguida, fica a famosa placa que indica que você chegou no ponto mais ao sudoeste da África. Durante muito tempo o Cabo da Boa Esperança se vendeu como o ponto mais ao sul do continente, o que é mentira, já que este local fica em Cape Agulhas, onde iríamos no dia seguinte. Mas quanto ao sudoeste sim, podemos dizer que estávamos no ponto mais ao sudoeste do continente africano. A famosa plaquinha fica numa praia de pedras bem bonita e você já deve ter visto no instagram de alguém já que 10 em cada 10 turistas que visitam o Cabo fazem a fotinho lá (e conosco não ia ser diferente ehehehe). Nem preciso dizer que a fila ali para tirar foto é grande...
Praia mais ao sudoeste da África e na última foto a concentração de turistas para tirar foto na placa indicativa
Estávamos indo para a fila para tirar a foto quando de repente chega de ônibus um grupo grande de chineses bem na nossa frente. Muito engraçado foi quando um dos tiozinhos chineses, sabendo que eles iam monopolizar o lugar, meio que pegou o celular da nossa mão, expulsou os turistas que tavam de bobeira por ali e nos mandou lá fazer pose para ele tirar as fotos da gente para que saíssemos dali de uma vez hehehehe. Apesar das más intenções, a fotinho ficou muito boa!
O parque como você deve ter percebido, tem muitas atrações e realmente, para se conhecer o lugar a fundo: fazer as diversas trilhas e pegar algumas das praias que tem por lá, é preciso um dia inteiro ou mais dias. Uma boa pedida é ir de bicicleta (não sei se tem para alugar por lá), só é preciso cuidar a questão do sol, visto que a vegetação é bem rasteira, quase sem árvores para se abrigar. Há também algumas acomodações dentro do parque, (além de lojinhas de souvenires e restaurantes), mas não chegamos a pesquisar muito sobre e não é muito divulgado, já que a maioria do pessoal normalmente só passa o dia no parque num bate e volta da Cidade do Cabo.
Depois de conhecer os principais pontos do Cabo, começamos então nossa viagem até Hermanus, primeira parada da nossa Garden Route. Fomos costeando a baía de False Bay, passando novamente por Boulders, Simon´s Town e Muizenberg. Seguindo por esse caminho, chega uma hora em que a estrada, a Baden Powell Drive, passa quase dentro do mar! É realmente muito perto, com uma faixa de areia muito curta utilizada bastante pelo pessoal que gosta de pescar, surreal! Ficamos imaginando se a maré inventa de subir, engole a estrada facilmente! Mais interessante ainda que do lado oposto da via, ficavam umas dunas de areia com muitos pássaros sobrevoando, gaivotas e urubus. Mas muitos mesmos, parecendo uma cena do filme do Hitchcock "Pássaros", uma cena que ficou marcada pra sempre na nossa memória! De tão impressionados, acabamos nem tirando fotos, mas convido quem poder a olhar no Google Street View, a Baden Powell Drive, em frente ao Pelikan Park. Depois descobrimos que atrás das dunas ficava um depósito de lixo, deve ser por isso a quantidade de pássaros.
Seguindo mais em frente passamos pelo bairro conhecido como Mitchell´s Plain, uma Township considerada uma das favelas mais perigosas do mundo. Lá dentro há uma região conhecida como Ghost Town que dizem ser literalmente uma terra sem lei. Tem um documentário muito interessante (e pesado) sobre essa região no Youtube que recomendo muito: https://www.youtube.com/watch?v=SA3ytkfCztM&t=921s. Mas a parte da estrada que passa pelo bairro é bem tranquila, inclusive bem bonita com bastante área verde e ainda com a vista para o mar.
Para chegar à Hermanus, ao invés de pegarmos a estrada oficial da Garden Route, a N2, seguimos costeando o mar na outra ponta da False Bay pela estrada R44, um caminho bem mais longo e demorado, mas que vale a pena pelo cenário belíssimo, acompanhando o mar azul turquesa. No meio do caminho ainda, já anoitecendo, pudemos apreciar um pôr-do-sol de chorar, com o sol desaparecendo atrás da encosta rente ao mar.
Por-do-sol na R44, próximo à Kogel Bay Beach
O problema é que, caindo a noite, numa estrada sinuosa e sem iluminação nenhuma bem ao lado das falésias, pra completar dirigindo na mão inglesa ainda por cima, começou a ficar meio complicada a viagem. Faltando ainda uns 70 quilômetros para chegar em Hermanus, redobramos os cuidados na estrada e fomos chegar na cidade quase 22h da noite.
Bem na entrada da cidade, pra completar o stress, fomos parados pela polícia numa batida. Ainda bem que já estávamos por dentro do golpe da Permissão Internacional para dirigir, que mencionei já no primeiro post da nossa viagem. Mostrei minha CNH brasileira e o guardinha pediu: "e a carteira internacional tu tem?" Eu só respondi: "Sim, quer que eu te mostre?" e ele, com uma cara de desapontado por não poder arrancar grana de turistas desavisados, nem pediu o documento, só sussurrou cabisbaixo: "não precisa mostrar, pode ir". Ufa! hehehe
Duas quadras adiante chegamos no Hostel Hermanus Backpackers. As cidades da Garden Route, pelo menos nessa época, não tinham muitas opções de hostels. 1 ou 2 no máximo e com preços iguais, então não tinha muito o que escolher. Como as cidades são bem pequenas também e estávamos de carro, a localização não importava muito e estes eram todos bem avaliados. Este em Hermanus por exemplo era o único na cidade, mas muito bom. Fica num casarão que parece ser bem antigo, todo de madeira. O nosso quarto, para 8 camas, era enorme, quase nem se via os companheiros de quarto de tão longe que ficava uma cama da outra. Muito confortável mas lembrava muito aqueles casarões de filme de terror tipo Anabelle. E pra piorar tinha uma boneca de pano em cima dum sofá no nosso quarto! hehehhe. A recepção é que deixou a desejar. O staff é feito pelos próprios hóspedes, naquele esquema comum de mochileiros de trocar estadia por trabalho, e o carinha que nos atendeu tava mais interessado em papear e fazer festa com um pessoal lá do que nos atender. Só jogou a chave na nossa mão e disse que nosso quarto era "lá em cima", nem olhou na nossa cara.
Podre de cansados, só guardamos nossas coisas e descemos pra área comum para conhecer o lugar. E a área comum dessa hostel é muito boa! Com piscina, sala de TV e sala de jogos e muito espaço aberto no pátio com diversas churrasqueiras para fazer um Braai.
Aproveitamos para jogar uma sinuquinha e pedimos umas cervejas e uma batata fritas no bar que, sem comer nada direito o dia todo, parecia um manjar dos deuses! A cidade em si também parece ser bem segura, já que a guria que nos atendeu depois no bar (essa sim super simpática e prestativa e inclusive pediu desculpas pelo colega dela que jogou a chave na nossa cara) disse que se quiséssemos podíamos ir a pé até uma pizzaria que ficava a duas quadras dali, no centrinho da cidade. Mas como estava super agradável ali na área comum, com bastante gente, ficamos por ali mesmo curtindo o resto da noite.
No nosso planejamento, chegaríamos em Hermanus ainda no meio da tarde a tempo de aproveitar alguma das atrações da cidade. Que ingênuos! Negócio foi dormir, coisa que foi bem fácil com o cansaço e o stress de dirigir o dia inteiro.
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